SARAU II - Texto - ENCERRE O PASSADO

SARAU II - Texto

ENCERRE O PASSADO

Em continuidade do trabalhos a apresentar para o Sarau II do Recanto das Letras, apresento-vos a minha segunda participação com o texto em prosa. – Encerre o Passado -

Por vezes preocupamo-nos com assuntos ou eventos que deixaram de ter interesse para uma nova vida que desejamos iniciar. Assim é preciso saber o que nos interessa manter ou guardar. O que já não representa nada para nós podemos vender, dar ou destruir porque já decidimos que fazia parte duma etapa da vida que chegou ao fim.

A manutenção de objetos ou recordações, para além do tempo em que nos serviu e foi útil pode tornar-se prejudicial. Está a ocupar-nos tempo, espaço e desassossega-nos por estarem relacionadas com situações que ainda nos afetam emocionalmente. Assim só nos fazem perder a alegria e a oportunidade de partir para outras etapas ou oportunidades dum melhor viver.

Convém pois que terminemos os ciclos sem interesse, fechando portas e encerrando as fases da nossa existência que queremos enterrar no esquecimento - não importa o nome que lhes damos pois o que interessa é esquecer os maus momentos ou aquilo que já não têm possibilidade de ser recuperado e que só nos deprime.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A namorada terminou o namoro? A amizade que alguém tinha por si, acabou sem explicação?

Você pode durante algum tempo questionar-se como isso aconteceu. Pode até prometer a si mesmo que não vai dar nem mais um passo enquanto não souber a razão porque tal aconteceu, porque considerava que isso era então a coisa mais importante n sua vida....

Proceder desse modo será um desgaste imenso não só para si, mas também para muito mais gente. Seus pais, seu marido, sua esposa, seus filhos, seus irmãos ou seus amigos prosseguem nas suas vidas fechando capítulos, virando as folhas do diário para seguirem em frente enquanto você parado e sem rumo definido vai sofrendo e os poderá fazer sofrer.

Ninguém consegue viver ao mesmo tempo o presente e o passado com equilíbrio emocional; nem mesmo quando está procurando entender tudo o que lhe aconteceu. O que já passou não voltará atrás e nem voltará a ser o que era: não podemos ser eternamente crianças ou adolescentes. Filhos com sentimentos de culpa ou pessoas rancorosas com os pais ou amantes, revivendo noite e dia uma situação que já não existe ou se perdeu. Só basta que um deles não tenha a menor intenção de voltar.

As coisas terminaram e o melhor que podemos fazer é deixar que esse doloroso momento seja esquecido e ultrapassado. Por isso o que é mais importante (por muito que nos custe) é destruir as tristes recordações do passado e procurar um novo rumo. Ir para outro lugar ou casa, doar as coisas que ainda estejam em boas condições a orfanatos, vender ou dar livros e objetos que já não lhe interessem. Tudo neste mundo material acaba por ser impermanente e uma manifestação dum mundo invisível que já aconteceu ou que ainda está atuando em nosso coração.

Ao encerrarmos certos episódios ou lembranças dum passado que nos mortifica e faz sofrer, significa que vamos dar oportunidade a que possamos aceder a outros eventos ou situações. Só assim eles poderão tomar o lugar daqueles que já não interessa que estejam presentes em nossas vidas.

Faro, 13 Julho 2016

Gualberto Marques