...E o Mundo Sorriu...

"Não sou nada. Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada. À parte isso,

tenho em mim todos os sonhos do mundo."

... Helena quando era jovem pensou que ganharia a vida fotografando as pessoas, seus sorrisos, gestos e olhares. Mas notou que chegaria o momento em que não mais existiria as pessoas nas fotos, e em outro momento posterior, não mais existiria quem lembrasse daquelas pessoas, tornando-se assim nada mais que lembranças do próprio esquecimento. Somente fotos dentre várias outras no mundo. Helena poderia estudar filosofia, pois certos conceitos lhe enchiam os olhos, era tanto a aprender e tanto a estudar, que de longe lhe pareceu muito árduo para que ela se ocupasse disso tudo. Mas o que Helena enxergou, foi que mesmo obtendo pouco conhecimento do mundo, sempre lhe seria muito, para o que de fato o mundo lhe ofereceria em troca. Não haveria se quer um vestígio de aplicação prática daquilo. Ela observava os tolos, com o que vivia e como morria os tolos, então entendeu que não necessitava de nada disso para poder morrer no final, lhe bastaria apenas viver, pois na morte não há valor nos homens. A pobre da Helena até pensou em pintar quadros, já que havia nela um notável dom artístico, porém, as pinturas de Helena só encontrariam dois caminhos possíveis: o não encontrar olhos humanos por falta de fama, ou, o não encontrar olhos humanos por excesso de fama. Nasceu em uma casa onde não havia obras de arte, mas ela foi para os olhos que os viram a própria arte em pessoa. Chegou então à conclusão de que de nada acrescentaria uma obra de arte, para os olhos de quem já enxergam a arte espalhada no mundo e nas pessoas.

Poderia a Helena ser tantas coisas, e realmente imaginou-se fazendo todas essas coisas, mas acabou por não sendo coisa alguma e fazendo coisa nenhuma.

A história de Helena começa quando ela passa a vender flores nas praças da cidade. Ela vendia para os casais apaixonados que passavam e para os solteiros também, vendia suas flores para as moças solitárias, os homens angustiados, as crianças curiosas e para os idosos arrependidos. Vendia também para os adoentados, para os loucos, os sãos, os crentes, e para os descrentes. Segundo Helena todos mereciam flores. Com o tempo, as flores morreriam, e quem as levou, da Helena se esqueceriam. Mas o que realmente chamava atenção em Helena, era que em cada flor que ela vendia, inevitavelmente, alguém no mundo sempre sorria.

Texto dedicado a uma escritora que não usa apelidos,

pois já possui dois nomes.