Pokémon go

Há uns poucos anos atrás, seria impensável imaginar milhares e milhares de pessoas atraídas pelo desejo de caçar com uma máquina, um certo porquinho deslavado e muito pouco atraente, daqueles que nem para comer servem.

Obviamente refiro-me à criação recentíssima de Pokémon Go, o jogo que atrai multidões de jovens alienados em todo o mundo, numa época em que os relacionamentos e as conversas são cada vez mais raros.

Aqueles que já têm uma certa idade e olham para esse fenômeno, sentem uma certa nostalgia e desconforto, imagino, e devem achar que o mundo e as pessoas estão à beira de um colapso pessoal e social.

Caçar esse porquinho, foi algo criado e bem planejado por alguém que, aproveitando-se de um momento em que jovens e máquinas parecem conviver íntima e incondicionalmente, pretende estimulá-los ainda mais a construir mundos e realidades fictícias. Uma alienação em nome de um herói apagado e quase desconhecido. Mas que provoca a vontade irrefreável de sair e procurar por caminhos alternativos, justificados como atividade física. Num momento em que a sociedade tem muito pouco para oferecer àqueles que necessitam de encontrar razões seguras e plausíveis para conceber um futuro minimamente promissor.

As grandes multinacionais do entretenimento e em particular as que sustentam impérios através dos vídeo games, usam esse poder para construir os seus castelos, debaixo do nariz de uma sociedade corrompida, hipócrita e altamente dependente de interesses capitalistas. A maior beneficiária desse negócio é a Nintendo. O valor dessa empresa japonesa aumentou em 9 bilhões de dólares, desde o lançamento do game.

O Pokémon não tem culpa de nada. É apenas um porquinho sem graça que viu nascer essa plateia descomunal de seguidores, admiradores e bajuladores. Mais uma moda lançada para derrubar barreiras, cifras, mercados e um sinal de que os tempos em que vivemos parecem cada vez menos compatíveis com arte, beleza e sobretudo com a

criatividade. A desumanização é um fator cada vez mais preocupante e é algo que nos assusta e incomoda profundamente.

Não quero aqui parecer retrô, pessimista ou antiquado nos meus comentários. Pode ser até que não consiga alcançar, às vezes, algumas certas verdades ou realidades. Afinal, o tempo vai passando e deixando as suas marcas, profundas e irrepreensíveis . No entanto, gostaria que os "nossos Pokémons" pudessem ter formas mais reais e humanizadas, ou que talvez nem existissem, como naqueles saudosos tempos que já lá vão.

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 02/08/2016
Reeditado em 05/07/2020
Código do texto: T5717073
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