Monólogos
Eu as vezes tenho a mania de achar que tudo está óbvio. Para mim as palavras soam simples, eu consigo transmitir exatamente o que penso, mas, engano, raramente alcanço êxito.
Normalmente se entende o oposto o que eu quis dizer e eu fico naquela de decifrar, re-explicar, o que as vezes é inútil. Somos ilhas e caldeirões de emoções.
Não se vê, não se escuta, tudo nubla.
Nessas horas é inevitável olhar pra mim mesmo. Vejo a minha necessidade de deslocamento, vejo o quanto tentar comunicar afasta as minhas energias, caio em minha própria contradição existencial.
Quero afeto, desejo companhia, mas quero ser só, descansar, simplesmente não comunicar nada e nem me sentir menor ou menos importante.
No fundo, somos monólogos, estamos sós, mas queremos talvez sermos entendidos como se nosso interlocutor não fosse humano, queremos algo parecido algo a figura cristã do Espírito Santo, que sonda corações e pensamentos.
Cobramos, em nossa cinzenta individualidade, que nosso ouvinte seja como uma entidade espiritual, adentrando nas periferias de nosso ser, como se isso tudo fosse fácil, ou no mínimo, humanamente possível.
A história termina quando percebemos que somos seres a sermos descobertos e conhecidos por nós mesmos ainda, e antes de quaisquer outras prioridades.
Resta o nosso tempo a sós como reflexão dos nossos atos para recuperar nossas energias e ter disposição para sermos na vida das pessoas uma presença boa, assim como esperamos receber daqueles que amamos.