COMENTÁRIOS PARA BERNARD GONTIER

Existem autores que nos convidam à reflexão em cada um de seus escritos. Um deles é Bernard Gontier, que escreve aqui no RL. Tenho escrito alguma coisa que acho valer a pena sobre textos dele e resolvi reuni-los todos aqui:

Olá Bernard. Vim conhecer sua obra pois foste muito bem recomendado. Só posso dizer que valeu a indicação, brilhante estória. Fiquei impressionado como você conseguiu transportar o ambiente de uma delegacia brasileira para o texto escrito (antigamente se diria para o papel) e criar uma zona intertemporal que coloca em xeque a própria existência da narrativa. O seu texto pode ser classificado tanto como policial, surreal, mistério, ficção científica... Ou seja, transcende uma classificação. Isto não é para qualquer um. Um abraço! (A Mesma Coisa)

Olá Bernard! Lindo artigo, inspirador. Devia terminar meu comentário aqui, mas.... Fernando Pessoa tem um poema, que infelizmente não lembro o nome, em que ele se pergunta se todo esforço que está fazendo valerá a pena. Sonha em ser um novo Virgílio ou Milton, mas será que isso não é uma quimera? Bem, ele se tornou Fernando Pessoa justamente em um poema em que diz "que tudo vale a pena se a alma não é pequena". Sempre olhamos os vencedores, mas a realidade é que a grande maioria fica pelo caminho. Acredito que se, dentro de nós, soubermos que demos nosso melhor, já é o suficiente. Afinal a fortuna é uma vadia. Sai com quem quer, quando quer, e vai embora sem avisar. Mas tem sim, suas preferências. Um abraço! (Construtores de Realidades)

Olá Bernard! Linda crônica. Dias frios realmente nos convidam a reflexão. Mas a ação pode ser fruto do pensar, mas "quem pensa não casa". Como você coloca tão bem, frutos geniais tiveram que ter "vários dias frios" para serem gerados. Mas, a partir de determinado momento, para realizar só podemos acreditar e ir em frente. Este, acredito, deva ser o momento da paixão. Transformar isto depois em amor já é outra estória. E, já que gostamos tanto de exemplos musicais (sou criticado por usar muitos trechos de canções em meus contos), vou usar um do Raul Seixas. Ele fez várias músicas propositivas e que são, ao meu ver, excessivamente cultuadas. Uma, que acho ser a melhor, é Eu Também Vou Reclamar. Nela ele expõe as contradições da sua vida, de suas ideias e da sociedade. E chega a uma linda conclusão:"E, sendo nuvem passageira, não me leva nem a beira, disso tudo que eu quero chegar". Talvez não tenha nenhuma relação, mas li sua crônica ao som desta canção e achei uma incrível semelhança. Um abraço! "Fim de papo". (Amor e Graça)

Olá Bernard! Não sei se é defeito ou qualidade. Minha principal orientação política vêm de Hannah Arendt, e ela tendia mas a querer compreender do que propor ou julgar. Lógico que isso não implica em total inatividade. Ela foi ativa na Resistência Francesa, eu fui nas manifestações pró-impeachment (péssima comparação, eu sei). Sou muito criticado por isso. Mas a questão é que a nossa política tem uma lógica própria, a americana tem outra, a chinesa tem outra, e por aí vai. A militância de esquerda é responsável por grandes avanços. Mas duas de suas características nos trouxeram boa parte de nossos problemas. A primeira é a organização. A origem do nossas facções criminosas foram o contato entre presos comuns e presos políticos na década de 70. A grande inovação do PT no poder foi o grau de organização que eles conseguiram estabelecer na corrupção. A segunda é sua relatividade moral, derivada de Gramsci. Tudo é justificável se for em favor da causa. O curioso é que não foi isso que derrubou nossa "presidanta". Foi a perda de apoio popular junto com a perda do apoio da oligarquia política tradicional. A mesma combinação que derrubou Collor e Jango. Te convido para ler um conto meu, Geisel. Um abraço! (Dãh- Yes paz, no ego)

Olá Bernard! Em um passado muito, muito distante, fui estudante de História. Uma das áreas que mais me fascinava era a hagiografia, a vida dos santos. Mas não por eles mesmos. Quem a Igreja decidia santificar e como contava a estória deste revelava suas intenções e as pressões que sofria da sociedade na qual estava inserida. Em uma época eram aqueles que sacrificavam seus corpos pela fé, em outra aqueles que combatiam os infiéis, em outra aqueles que se dedicavam a caridade. Em uma época vinham predominantemente da nobreza (há verdadeiras genealogias de santos), outras do corpo da própria igreja, outras que vêm de quase todas as classes sociais. A que ponto quero chegar? A escolha de nossos heróis e como contamos suas vidas revela nossas aspirações, nossos espelhos, o espírito de uma época. Mas usemos um exemplo laico. Oskar Schindler até o filme de Steven Spilberg era uma figura controvertida na Alemanha, pois deixava escancarada a hipocrisia de quem dizia que não havia como fazer diferente. O Estado e o povo, após a guerra, preferiram idolatrar o conde coronel Claus Von Stauffenberg, líder da tentativa fracassada de retirada de Hitler do poder em 1944. Que queria preservar apenas a Alemanha da política de terra arrasada nazista. Ou seja, a pergunta: quem admiramos? A resposta revela quem queremos ser. Um abraço! (Mollie, a semente venturosa)

Olá Bernard. Gostei do teste de Franklin. Mas por ser capaz disso e se envolver em política é que Benjamim Franklin era Benjamim Franklin. A geração que fez a Revolução Americana foi única em toda a história da humanidade. E mesmo assim foi incapaz de revogar a escravidão. Foram necessários Mais 100 anos uma imensa guerra civil para isso. E depois mais 100 anos para o fim do preconceito oficialmente instituido. Thomas Jefferson foi o maior defensor do fim da escravatura logo na instituição da República. Quando foi vencido disse: Me aterroriza a ideia que Deus é justo. O grupo de rock Gun´s and Roses foi muito criticado por colocar em seu álbum o nome Chinese Democracy. Um dos maiores problemas africanos hoje é a China. Os países ocidentais exigem um mínimo de contrapartida social para seus investimentos no ocidente. Os chineses não exigem nada. O máximo que fazem é construir estádios de futebol para a população. Os déspotas do continente os adoram. Como atrair Franklins para a política e como fazer a população votar neles? Um abraço! (Brasil Moderno, Lunáticos e o Teste de Franklin)

Olá Bernard! Amei esta crônica! Sou muito criticado por ter grande admiração pelos governantes militares. Tenho profundas diferenças de opinião e ideológicas, mas admiro seu desprendimento com relação a fama pessoal, seu desapego ao poder depois de saírem. Algo como a frase icônica de Figueiredo: "Esqueçam de mim!"; é impensável na boca de nosso ex-presidente. Uma pena. Ele é admirável. Ajudou a criar uma alternativa de esquerda viável. Mas no final lhe faltou, como a muitos, a qualidade da verdadeira grandeza: a humildade. Sólon foi considerado o mais sábio governante que Atenas já teve. Após fazer as reformas que impediram uma guerra civil entre as classes ricas e pobres de cidadãos, baixou um decreto de que as suas leis não poderiam ser mudadas dentro do prazo de dez anos, não escutou os pedidos para assumir o poder absoluto e abdicou. Comprou um barco e saiu para conhecer o mundo. Escreveu em suas memórias: E a cada dia se tornava um pouco mais sábio. Eu não consigo imaginar o Lula ou a Dilma fazendo isso... Um abraço! (Reflexões e Tentativa de Prece Para o Salvador da Pátria)

OlÁ Bernard! Linda crônica. Uma linguagem poética sem firulas, a altura do tema que se propõe. Também acredito na canção de agosto. Se alguém não está pronto para alguma ideia ou conceito, não o incorporará verdadeiramente. Poderá sim fingir, afinal, a hipocrisia é uma homenagem que o vício rende a virtude. No entanto a mudança é possível. Um filme que eu amo é A Origem, de Christopher Nolan. Justamente por apresentar de forma compreensível como isso se daria. Nossos paradigmas (ou ideias) nos definem e definem como vemos o mundo. Se estes mudarem, mudamos. Se começo a acreditar no mais profundo do meu ser em algo, tudo na minha vida acaba passando por esta crença. Coisas simples: Meus pecados são perdoados na medida que perdoo; sou superior por fazer parte de algo superior (raça, religião, ideologia); cada dia que não me rendo aos meus vícios (bebida, drogas, jogo, etc) é um dia bem sucedido; tudo é justificável em nome do que acredito; estou neste mundo só de passagem, a única coisa que existe é este mundo; e por aí vai. Talvez não exista descrição melhor disso que a famosa passagem do pátio nas Confissões, de Agostinho de Hipona. Um abraço! (A Canção de Agosto)

Olá Bernard! Ótima crônica! Seu estilo é maravilhoso de ler. A grande verdade sobre o PT, que nos enganou durante tantos anos, é que ele não é um partido marxista. Ele é um partido gramsciano! Tinha um projeto de poder onde pretendia aparelhar todas as instâncias do estado e da sociedade. Desde a escola primária até a pós graduação. Por isso existem pessoas "honestas" que choram pelo impeachment. Toda aquela corrupção era apenas um mal necessário para a perpetuação deles no poder até que a "maligna oposição burguesa" fosse eliminada. Não havia problema se aliar a José Sarney ou Paulo Maluf. Era apenas uma contingência, o dia deles chegaria. Sobre este último tenho uma estória engraçada. Antes da votação do impeachment, escrevi para ele. E assim como Napoleão e Júlio César com suas tropas, não apelei para nenhum ideal ou espírito cívico. Ressaltei apenas que o PT havia malhado-o durante anos, por "supostas irregularidades" que se colocadas em proporção faziam dele apenas "um ladrão de galinhas" (escrevi assim mesmo!). E que se fosse o inverso, não teriam a mínima consideração com ele. Qual não foi minha surpresa ao vê-lo subir na tribuna, vermelho de vergonha, dizer sim e sair correndo. O que difere os antigos corruptos e os do PT é que eles ainda tinham pelo menos um sentido deturpado de honra...Um abraço! (O País dos Fantasmas)

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 14/08/2016
Código do texto: T5728176
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