Não escolhemos quem somos

Os pais precisam entender que nós, os filhos, não escolhemos quem somos. Para nós, é terrível quando vocês lamentam o que não podemos ser, como um pai que lamentou: " Nenhum dos meus filhos deu para matemática ou para ciências." Vocês acham que gostamos de pensar que somos apenas isso para vocês: fontes contínuas de decepção?

Em primeiro lugar, saibam que não escolhemos nossos talentos e aptidões. Um filho ou filha com talento para as ciências talvez não seja um destaque nos esportes. E isso não dependerá da sua vontade. Por favor, não façam seus filhos sentirem que têm a obrigação de ser bons em tudo. Um filho pode não ser o melhor em matemática, mas isso não significa que ele seja estúpido e incapaz. Com certeza, ele possui talentos que merecem ser estimulados e valorizados e os pais não devem dar a entender que ele os desaponta com a sua falta de aptidão para os números, a qual pode ser devidamente contornada com esforço e assistência. Alguém que não possui um grande talento para cálculos pode superar suas dificuldades e, ainda que nunca venha a se tornar um gênio, aprenderá matemática.

Filhos não são projetos nem continuações dos pais. São indivíduos que vêm ao mundo para encontrar o seu lugar e que precisam de orientação e amor. O problema é que os pais muitas vezes não estão preparados para amá-los e ser pais, pois não aprenderam o que realmente significa o amor e, talvez por causa de conflitos pessoais e criações erradas, não tenham conseguido amadurecer emocionalmente para desenvolver relacionamentos saudáveis e entender que as pessoas são como são e não podemos projetar nelas nossos desejos e frustrações. Eis aí o resultado de vermos tantos pais eternamente insatisfeitos com seus filhos, considerando-os inadequados, agindo como se eles sempre tivessem que se esforçar para conseguir um olhar de aprovação, um sorriso, um gesto afetuoso. Alguém merece isso?

Outro problema a ser salientado é que, quando os pais falam apenas nos defeitos dos filhos ou lamentam os talentos que eles não possuem, cometem o erro de vê-los apenas por um ângulo limitado. Esquecem que os filhos, como seres humanos, são complexos e devem ser vistos como um todo.