Os nãos de cada dia

Quem é que nunca recebeu nãos que atire a primeira pedra!

Receber nãos é algo natural todos os dias, mas não deveria sê-lo. Hoje percebi isso ao receber um não. Aliás, já estou acostumado com nãos. Você também deve estar acostumado, não é verdade?

O pior não é isso. O pior é receber um não de quem nós achavamos que receberiamos um sim. É demais para nosso ser perceber a frieza com que nos tratam as pessoas e, olhe bem, as pessoas mais achegadas a nós.

Alguém disse uma vez que dar não fortalece o ser de quem recebe o não, mas veja bem: nos momentos de dificuldades em que estamos sofrendo "pra burro" não admitimos, em hipótese alguma, receber um não. Se fosse dizer para esse alguém que o não fortalece o ser eu estaria de brincadeira, pois não fortalece, mas sim afunda a pessoa mais ainda. Talvez essa pessoa que disse isso estava sempre acostumado a dizer não e não receber não, mas receber sim.

No português o não é uma palavra negativa e deve ser mesmo porque ela traz todo o tipo de infortúnio.

Acredito e confio fielmente que as pessoas poderiam não dizer não, mas pelo menos pretendo. Se você pede alguma coisa a alguém que pode fazer por você essa coisa e a pessoa não quer fazer, tudo bem, isso é um direito que cabe a ela de não lhe ajudar. No entanto, se essa pessoa fosse menos impiedosa diria que pretendia fazer essa coisa para não "cair mal". Os médicos fazem isso. Não dizem que os pacientes estão doentes mentalmente, mas dizem que estão com uma síndrome. A palavra síndrome é aceitável em detrimento da palavra doente. Isso causa menos desconforto tanto ao paciente que recebe a palavra síndrome, quanto a seus familiares que não gostariam de ouvir que seu ente querido está doente, mas sim está apenas com uma síndrome.

Entende onde quero chegar? Queria que as pessoas dissessem pelo menos um não de outra forma, mas suave, mas leve, sem lesar completamente o desejo de quem pede. O pedinte é uma pessoa que não teve uma sorte naquele momente e isso é obra do acaso. Em muitos casos, como canta um grupo musical, o acaso vai nos proteger, mas em outros casos, o acaso não nos protege e sim nos afunda de vez.

Por outro lado, se vence o não com um sim. Mas que satisfação receber um sim! Outra satisfação é dizer sim e poder tirar dos "apuros" uma pessoa a quem nós desejamos bem e podemos ajudar.

Nada paga um obrigado para os homens ou um obrigada para as mulheres! Receber esse palavra mágica nos faz muito bem! Levanta a nossa estima, trabalha a nossa grandeza como seres humanos irmãos que somos, faz brotar em nosso coração o sentimento de compaixão que é isto, a saber: a dor dos outros que sentimos em nós mesmos. Sempre defendo essa idéia de compaixão. Acredito, que em todos os setores da sociedade deveria existir esse sentimento nas pessoas, independente de posição social e poder. Fazer o bem é menos que nossa obrigação. Nossa obrigação é doar a quem precisa um pouco de nós mesmos.

Uma vez um palestrante falava sobre as 57 maneiras das pessoas serem felizes neste mundo da pseudo-amizade. Dizia ele que a primeira coisa que deveriamos fazer para sermos felizes era amar o próximo, mas amá-lo com um amor que dispensariamos a nós mesmos.

Após dizer essas palavras, o palestrante parou de falar e a platéia estava inquieta querende de antemão saber as 56 coisas finais que uma pessoa deveria fazer para que ela e, por conseguinte, toda a sociedade fosse feliz. Passaram alguns minutos e o palestrante não falava nada. Foi quando alguém da platéia gritou:__Quais são as outras 56 coisas que devemos fazer para nós sermos felizes neste mundo e a sociedade também? Ao qual respondeu o palestrante:__É só praticar a primeira coisa e todas as outras já terão sido praticadas. É isso mesmo! Devemos agir conforme nos ensina o adágio popular: "Fazer o bem sem olhar a quem". Fazer o bem a alguém sem olhar para esse alguém com um olhar de preconceito, com um olhar de desprezo, com um olhar de reprovação. Não, de forma nenhuma! Mas fazer o bem com um olhar de aceitação, com um olhar de amparo, com um olhar de aprovação e carinho.

Quando brotarem virtudes como o amor no coração das pessoas, a burocracia e a falta de irmandade serão superadas, podemos crer nisso!

Haverá um dia em que daremos e receberemos mais sins do que nãos. Para isso, basta abrirmos a boca e dizermos a quem precisa de nós: sim! Sim para a ajuda que você me pede! Sim para a idéia que você propõe! Sim para o sonho que você tem! Sim para os projetos que você divide comigo! Sim para o futuro que você deseja! E acima de tudo, sim para todos que precisam de nós em momentos que nós pensamos que não é difícil para eles, mas que não usamos de empatia para poder saber os fatos que levam esses seres a fazer um S. O. S.

Sim, sim, sim! Eu posso sim, eu faço sim, eu consigo sim, eu vou ajudar sim, eu vou me esforaçar para que você consiga isso sim!

Brote esse sentimento de ajuda no seu coração e será mais feliz e fará mais feliz aquele que está tão perto de você, mas tão perto que você não está mais o enxergando como alguém especial.

Confiar nas pessoas é algo fundamental para vivermos, pois somos seres gregários, isto é, só vivemos em sociedade como nos ensina Aristóteles e precisamos de dizer sins e recebermos sins.

Então, vivamos de tal maneira que digamos sins e recebamos sins para que o mundo fique mais repleto de alegrias, de menos injustiças, de rapidez, e, acima de tudo de amor(caridade) que é uma das três virtudes teologais.

Sim, sim, sim e não, não, não.

Filósofo místico
Enviado por Filósofo místico em 22/07/2007
Reeditado em 22/07/2007
Código do texto: T575390