PRESSA

Preciso de muito! Todos, precisamos! Lá no início nem nos damos conta. Depois, fica nostálgico. Bem depois, tudo fica muito nostálgico. A memória não dá conta. Ela preenche suas lacunas fabricando lembranças próprias. Haja, Halbwachs e Nietzsche! Pouco em comum; memória afetiva, memória da dor; mas, é tudo memória. Aliás, antes que eu me esqueça, não é sobre isso que estou escrevendo. Preciso de muito! Tanto, que às vezes sinto remorsos quando durmo; tanto, que às vezes sinto culpa de véspera. Não sei se é o passar dessa coisa que preenche a memória, ou se percebemos que essa coisa passou porque a memória depois de preenchida, está cheia de lacunas. Uma coisa eu sei, sentimos pressa. Sentimos pressa na fila, no trânsito, na vida. Não estou me referindo à ansiedade; essa, na minha opinião, não tem muita relação com o que preciso. Haja, Sêneca e Botton! Quase nada em comum. Mas, para não parecer leviano com as suas filosofias sobre a ansiedade, esclareço que ela não possui relação com o que preciso, na forma como me refiro. A pressa está intrinsecamente ligada ao tempo. Preciso de tempo. Não, do tempo futuro. Amanhã, não me importa tanto quanto hoje. Preciso de tempo, hoje! Tenho pressa!