Entre amor e tristeza
Suponho que a amo. Suponho deveras que a amo. Ir a fundo torna tudo mais difícil. O amor, no entanto, parece jogar às arestas a profundidade. Não há nada de profundo no amor. Ele é mecânico. Dá voltas por aqui, por ali; some, retorna; desassossega.
Tudo começou em uma noite - e de que outro modo? Ela estava triste - e quem não está? Mas, maldita tristeza... Não poderia se restringir a mim? Eu, em meu antro de solidão, não soube lidar com sua tristeza - ou, mesmo, com a minha. O pior da tristeza, de ela não ser só sua. Reapresentou-se a mim nela, a tristeza; convidou-me a pôr pé fora de minha sozinhês, como se fosse possível - e o soturno, de tão soturno, acreditou.
Já não sei há quanto tempo; mas, há muito tempo.
O amor dormiu, beliscou, roçou, cortou, sumiu, mas sempre voltou. Desta vez, voltou com mais força - entenda-se o quiser por força. Motivo para essa duração, de tempo e desenlaces, não há, nunca houve - e por que haveria? Não sei, não concluo - porque, afinal, não há conclusão senão morrer.