Triângulo amoroso da perda.

Vou contar uma história, cabe a vocês acreditar que ela seja real ou não.

Lá estava eu, dia 27 de novembro de 2014, o dia estava nublado e ventava muito. Ele estava lá, com seus óculos tortos por conta da vez em que acidentalmente sentou em cima deles, com sua blusa de frio azul marinho que eu tanto odiava e as pulseiras de falso couro. Ele estava lá.

Foi naquele dia em que nos beijamos pela primeira vez. Literalmente a primeira vez, nunca tínhamos beijado ninguém antes. Ele morava longe e nós dois éramos tão jovens que não podíamos fazer visitas frequentes um ao outro. De vez em quando ele aparecia, mas na maioria das vezes nos encontrávamos virtualmente. Mesmo quando o assunto acabava, mesmo quando o tédio literalmente nos tomava, nós conseguíamos manter aquela incrível conexão que nos fazia conversar sobre a extinção dos pandas quando não havia mais nada pra falar.

Aí nós crescemos, crescemos e amadurecemos. Estávamos na mesma faculdade e voltávamos juntos pra casa todos os dias. Aos poucos ele perdeu o medo de segurar minha mão e as coisas foram fluindo naturalmente. Eu sempre fui mais acelerada mesmo, sei lá, acho que é por causa de todos os filmes tristes que já vi.

Meses depois o outro apareceu, totalmente diferente e seguro de si. Ele me dizia coisas bonitas sem nenhuma dificuldade e costumava tocar violão pra mim, ele aprendeu a tocar minha música preferida, e uma vez enquanto eu chorava, ele colocou o telefone no viva-voz e tocou para mim o caminho todo até que eu chegasse em casa. Ele tinha cabelo cacheado e gostava do som da minha voz, me ligava todos os dias de manhã e morava perto da minha casa. Ele tinha acabado de sair de um relacionamento de quatro anos.

Eu me apaixonei pelo novo, e cada vez que eu mergulhava nesse mundo novo onde a maturidade te livra de sofrer a toa, eu me esquecia da garotinha inocente que se apaixonou pelo melhor amigo no ensino médio.

Talvez o primeiro nunca acredite que o que eu senti pelo segundo não foi de propósito, aconteceu e eu realmente queria ter evitado. Pode parecer maldade chamá-los de Primeiro e Segundo, mas é que eu prefiro não revelar seus nomes, acho que eles ficariam zangados.

O triângulo amoroso começou quando eu já não sabia como me portar diante do primeiro, meu primeiro amor, a quem eu sempre serei grata. Sem contar que eu não sabia como agir perto do segundo sem conseguir esquecer que o primeiro existia. O segundo, me mostrou coisas novas, me fez sentir viva depois de muitos anos agindo como um robô calculista que só pensava em estudar e ler bons livros. Ele me fez rir verdadeiramente e me despiu de todos os tabu's existentes possíveis. Ele me mostrou que a pessoa escondida em meu interior estava pronta para voar e essa pessoa era forte e desinibida... Ele me fez entender que até mesmo o simples tocar do vento em minha pele era algo para se comemorar, algo para agradecer.

Aí ele me beijou... Nós nos beijamos. Então eu soube que tinha que tomar uma decisão, soube que não podia mais ter os dois comigo, mesmo que soltar um deles fosse doloroso demais.

O primeiro era aquele cara gentil e doce que me fazia sentir amada a cada batida do meu coração, e o segundo era a pessoa que me ensinou a ser quem eu sou hoje, ele me fazia sentir uma chama dentro de mim, uma chama que não consumia, mas ardia... Ardia de uma forma boa.

Eu escolhi o segundo. Não sei dizer se foi a escolha certa, mas em um último encontro com o primeiro eu decidi que teria que o perder, para que assim ele pudesse ser feliz com alguém que o amasse por inteiro e não pelas bordas. Com um último beijo naquela noite estrelada eu selei minha decisão.

Os meses que se passaram foram repletos de ensinamentos, sentimentos de todos os tipos, desde alegria até sofrimento. O segundo me amou, da forma dele, mas me amou, mas o problema é que eu estava acostumada com o amor doce do primeiro e estranhei a forma como o segundo demonstrava seus sentimentos por mim.

Ele me trocou pela ex namorada de quatro anos atrás. Entregou-me um colar como representatividade do que tivemos, sendo que eram dois colares que se completavam, um dele e um meu.

Ele ficou preocupado que a mulher forte cedesse a menina dentro de si e desabasse com a perda, e desde então passamos a conversar sempre, mesmo depois do fim. Algumas vezes ele tentou se afastar, mas era doloroso demais. Eu sabia que se ele fosse embora, então eu teria perdido os dois... E eu não queria perder mais ninguém.

Podem me odiar, me chamar de burra, trouxa e até mesmo egoísta, mas só quem sabe o que eu senti, poderá compreender minhas intenções aqui.

Sozinha, decidi libertá-lo também, eu cortei todo e qualquer vínculo que podíamos ter de forma dura e rápida, e foi libertando-o que me libertei.

Eu me lembro que doeu... Muito. Mas eu sobrevivi. Sabe como?

Com a ajuda da doce menina do ensino médio apaixonada pelo melhor amigo, que me mostrou que sentir demais não é nenhum pecado, mas também com a força da mulher corajosa que amava o roqueiro descabelado. Eu sobrevivi. O amor que sentia por eles dois me manteve viva.

Hoje não há triângulos amorosos, nem retângulos, octógonos, círculos ou quadrados... Sou apenas eu. Os dois se foram, ás vezes escuto boatos de que foram vistos pelas ruas de São Paulo, ambos com seus novos amores, mas mesmo assim se foram.

Mas eu estou aqui, eu não me abandonei... Eu me libertei e sempre serei grata aos dois por terem participado desse processo de amadurecimento embora que tenha sido tortuoso. Mas sou grata e sempre serei... Pelos pequenos momentos... Pelos intensos sentimentos.

Sou apenas eu.

Shirleyne Moreira Niza
Enviado por Shirleyne Moreira Niza em 12/10/2016
Código do texto: T5789381
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