E quando ter mágoa é um compromisso maior do que o compromisso com quem nos magoou?

Acontece. Somos humanos. E nem todos os nossos compromissos são com outros humanos. Nos magoamos geralmente porque nos importamos, a grande questão é se essa importância é maior em relação aos outros ou a si mesmo.

Hoje estava falando com uma amiga e a seguinte palavra saiu: “Muitas vezes nos frustramos com as outras pessoas porque temos uma noção errada de ser do outro. Alguém é meu? Alguém é minha? O que isso significa? Significa que alguém é meu ou minha no sentido de propriedade ou de entrega? Pensamos muitas vezes em propriedade, esquecemos da entrega. Se é alguém que se entrega para a gente temos que aceitar que essa entrega virá recheada de coisas que não gostaríamos de ter, e não podemos fazer muita coisa em relação a isso, afinal se na entrega tudo viesse como queremos, se pudéssemos transformar isto que recebemos então o que teríamos não seria uma outra pessoa, mas nós mesmos. As coisas que são nossas modelamos como quiser. As pessoas que são nossas aprendemos a conviver apesar dos indesejados”

Muitos seres humanos tem relacionamentos, mas o verdadeiro caso de amor que estes têm é com eles mesmos.

Se magoar é normal, quando ouvimos aquilo que nos desagradou. Quando nos sentimos afetados por alguma atitude. Quando vimos o que não queríamos ver. Normal. Normal. Normal. A obrigação de reconciliação está nas mãos do que magoou. Todo mundo deveria aprender a correr atrás, pois todo mundo tem esse dia, assim como todo mundo deveria aprender a abrir os braços, pois todo mundo deveria ter o dia em que correm atrás de si. Sabemos que não é bem assim que funciona e atitudes devem ser tomadas se realmente importa continuar com alguém nas nossas vidas.

Há muitos que não sabem lidar com as próprias dores, o que dizer das alheias? Muitos que não sabem provocar, conquistar, se acertar, quiçá se desculpar. Podem aprender? Podem. Irão? Não sei. E aí é que a mágoa faz uma diferença fundamental. Porque apesar de sentir mágoa ser algo natural, continuar com ela é deliberação, é desejo, é vontade.

O humano que delibera mágoa mesmo com o ocorrido da mágoa ter ficado no passado, o indivíduo que deseja e que tem vontade de alimentar a mágoa, de tolerar sua existência carrapática, é o que por definição é chamado de orgulhoso. O pior dos casos de amor consigo mesmo é o que assim se manifesta – no orgulho.

Alguém te machucou? Às vezes um só pensamento faz toda diferença: Foi intenção dele? Se não foi ele deveria saber que aquilo foi errado? A mágoa diria que sim. A razão não necessariamente concordaria. A compreensão nos ensina que as pessoas são diferentes e que têm formas diferentes de encarar o mundo e as dores, ninguém é culpado por se ofender por coisas diferentes, ou é? Entender isso ajuda. Ter mágoa às vezes é só questão de retroalimentar o orgulho. Nos amamos mais quando aparentemente outros que nos amam aparentam amar menos. É um tipo de competição que o ego se submete – ninguém pode nos amar mais que nós mesmos.

Permanecer magoado é questão de decisão. Talvez quem nos magoou não mereça outra chance de permanecer em nossas vidas, mas porquê fazer desse fato justificativa para nos amar doentiamente?

~Leandro Santtos

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Leandro Santtos SM
Enviado por Leandro Santtos SM em 21/12/2016
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