Devaneios

Abriram-se as cortinas e quando percebi já tinha deixado de ser menina,

Uma criança que carregava a sua boneca nos braços, com os cabelos de lã azul...

Absorta no mundo, contornando as nuvens com os olhos, desenhando em minha mente coisas que nunca ousei aprisionar num papel.

Uma sonhadora que não cansava de debruçar-se na janela, em noites de céu estrelado, indagando a Deus o que estaria por vir que poderia me fazer ainda mais feliz?

Lembro-me das sementes vermelhas, tão perfeitas caídas de uma determinada árvore que costumava juntar em minhas mãos, assim como as conchas do mar...

Lembro-me de um diário, com uma pequena chave e cadeado, onde achava que poderia inserir o mundo entre as linhas e páginas...

E, hoje, vislumbrando o relógio, magicamente girando, entre os meus livros na estante,

Percebo o quão inebriante é, agora, estar aqui... Transbordando de gratidão pelas pessoas maravilhosas as quais compartilhei amor e reciprocidade, mas que hoje pertencem à outra dimensão... As pessoas que hoje compartilham o meu presente juntamente com as pequenas gerações, que assim como os ponteiros do tempo, não sessão de brotar no seio do “meu” lar.

Ainda continuo a possuir meu quarto como um ninho, quente, cercado de muito amor e carinho. Onde acompanhada de músicas instrumentais e do meu grande guardião, escrevo essas breves linhas que transbordam do meu coração.

Penso que o silêncio da noite tem muito a nos ensinar, facilitar, aconchegar e ampliar o nosso campo de visão. Pois me faz ver que é preciso muito pouco para ser feliz...

E, embora o mundo lá fora não seja o mar de rosas, há uma magia quase imperceptível que nos dá o “poder” de delimitar até onde o que está lá fora pode entrar... E o quanto podemos transcender as limitações temporais e materiais a fim de sermos mais leves e repletos de paz.

E, sublimando o que não soma, elevo meu quarto sobre as colinas, desembocando em um belo rio, que tem com destino as suas águas mesclarem-se com um belo mar... E, neste devaneio já não estou numa cama, mas numa singela canoa, perto da proa, deitada sobre flores, folhas de eucalipto e rosas nas mais diversas cores, que exalam seu perfume embalando-me, aconchegando-me alma, pulmões, mente e coração... A lua me acena de longe, como um grande abajur, e os galhos das árvores adornadas de prata, balançam de tal forma que me reporta ao som de lindas harpas levando-me finalmente a dormir.

Não tenho ideia de onde irei acordar, mas com toda certeza lhe digo que há mais mistérios entre o céu e o mar que está a me embalar, do que meus pequenos pensamentos a imaginar.

Sei que no mundo real não há espaço pra contos de fadas, mas entre plumas que nesta noite me afagam, e os raios que perpassarão minha alma quando o sol aparecer como que saído do mar, com pássaros rodopiando e cantando sem cessar, sei que estás a me espreitar... E, quando os teus lábios nos meus um dia se encontrar, saberei o quanto valeu a pena todo esse tempo te esperar.

obs.: Não vou reler agora, correções ortográficas podem aguardar. Agora, nos braços de Morfeu.