A vida acontece...

“A vida é o que acontece enquanto se faz planos.”

Li esta frase em alguma publicação, acho que na crítica de um filme numa página de um jornal, mas não sei quem é seu autor. Ela estava lá, a certa altura da nota assinada de forma abreviada pelo crítico, com apenas duas letras (iniciais de seu nome, quero crer). Bem, isso agora não importa muito. O que eu quero dizer é que essa frase veio mais ou menos como um potente “direto no estômago”. Deixou-me atordoado e me fez parar e refletir: “Estaria eu sabendo dosar adequadamente passado, presente e futuro, no tempero da minha existência?...”

Planejar é preciso, caso contrário corre-se o risco de não se chegar a lugar algum. Mas, quanto se deve dedicar ao planejamento? – parece ser o ponto-chave da questão.

Ação e reflexão, paixão e razão, presente e futuro: ingredientes essenciais, e que se complementam na composição da boa receita da vida. Mas em quais proporções deve-se tomá-los? Difícil essa questão!

Ontem, dia dedicado às crianças, cheguei de viagem, abracei minha filha e a senti um pouco mais crescida. E olha que estive fora por dez dias apenas. À noite, na cama, a luz apagada, voltei no tempo e passei, em breves flashes, alguns trechos da fita da minha vida. Ocorreu-me que eu posso ter me ocupado um pouco mais do que devia planejando, projetando o futuro – talvez mais que um pouco mais...

O tempo não pára (velho e bom clichê; grande Cazuza!), a vida segue acontecendo, os dias se sucedem e o futuro... cadê o futuro? – ele nunca chega!

O tempo passou, minha doce criança cresceu e parece que não me dei conta disso. Hoje fui buscá-la no colégio e ao chegar em casa, disse-lhe, olhando bem no fundo de seus belos e cativantes olhos castanhos: “Eu te amo, filha querida; é muito bom estar em casa novamente!”

Naquele instante foi só presente, nada de futuro – e foi muito bom!...