Meia verdade

Abraço que já não há, bonito laço desfeito. E a pressa, exigindo, exortando e explorando cantos quaisquer por onde escapar, por onde voltar.

Quem sabe, talvez, ficar.

O chão inconsistente, inexistindo tanto quanto os passos imaginários, flutuando um limbo de recordações: eu sei, o meu único acerto - aceito - foi quando eu mais errei.

Insônia. Insana. Invade violenta o pouco e tão louco de paz, espaço curto, derradeiro despertar.

Calada caiada noite traiçoeira e suas ofegantes vozes, desconhecidas. Sempre companheiras.

Olhos de fogo na escuridão e o instante escorre cínico, levando com ele inúteis bengalas, que apenas pesam, municiam ardis e meias verdades.

Fecho os olhos. E já não sei se durmo. Terei chegado a acordar, algum dia?

Concordar. Repetir. Ousar. Travar. Desbravar. Tortura, um segundo interminável que determina, ensina, extermina e exalta: diviniza, para depois condenar.

Mãos trêmulas ao céu e o choro (sem lágrimas), não encontra eco. Impossível resistir. Tão longe a morte e a vida, e o fim e as possibilidades tão certos. Difícil é não se saber, tanto para viver.

E eu, meio caminho do além, ensaio e repito, desato meu pranto, último acorde.

Tropeço nos pedidos e desamparados, os vultos são leves e livres, são o que eu nunca tive, enquanto possível era.

A vida irreal de quem não vive, apenas espera.Erra. Era.

Desespera.

Meio do caminho, sonho inteiro e o outono inverso encerra em si toda meia verdade.

É tarde.