Aquela janela
Curitiba, 03 de março de 2017.
Tudo o que ele é se resume a uma janela emperrada que nunca mais se abrirá. O passado é isso e mais nada.
Não adianta pecar pela insistência, nunca voltarei a vislumbrar o amanhecer aqui.
Passei tanto tempo tentando abrir essa janela por considerar sua visão privilegiada que nunca mais dei atenção às estrelas, nunca mais filosofei com a lua, apenas alimentei minha própria dor ao me aprisionar sem razão.
Há lembranças boas que os anos não serão capazes de apagar, elas estão gravadas em mim, porém não importa o quanto eu feche os olhos, o poder de controlar o destino não me pertence.
Essas feridas serão testemunhas da minha força nos momentos mais improváveis, as marcas do amadurecimento, pois os caminhos todos levam a essa conclusão. É no presente que se encontra a melhor parte de mim.
Um coração verdadeiramente são não se cobra além do que pode ser e vive por inteiro quando aprende a respeitar a nobreza dos ciclos.
Entre tantos inícios e fins. Faz parte de crescer deixar algumas coisas para trás. E é por isso que pretendo curtir o amanhecer em outras janelas porque é justo e aceitável que o amanhecer é o sonho mais bonito, um presente da vida àqueles que ainda possuem uma alma sensível o bastante para apreciar sem apetrechos o quanto é bom fazer parte da criação.
Na teoria minhas palavras afagam o tédio, mas a percepção nunca vem só. Ela é a consequência de uma reflexão suscitada por centenas de transformações que transbordam o âmago.
E elas não param.
Nunca cedem.
São elas que fornecem consistência aos ideais. Eles crescem, mas não podem jamais engolir a modéstia e se basearem em filosofias vaidosas.
Os lábios aprendem com muito custo que o silêncio é rei. As maiores perguntas são muito mais proveitosas do que pensamentos prolixos e vazios de credibilidade.
A visão dessa janela sempre será inspiradora, talvez quando meus olhos quiserem lembrar em consonância com os outros sentidos, mas o passado fica ali. Só ali. Numa recriação mental com ares de neutralidade.