Sou inversão

Anotações da madrugada.

Quando todos dormem, e o tão sonhado e temido barulho do silêncio finalmente acontece , algo em mim, (outro eu?) desperta, não para.

Dispara, repara. Sugere. Urge.

Medo dos tão poucos anseios. Vejo que o fim, definitivamente, não justifica os meios. Duvido de um tudo incerto.

E a voz surgindo de todos os lados - parede, cama, travesseiro, cabeça, lembranças - ordena:

Modere-se, dissolva-se. Sorva, sirva, siga. Prossiga.

Madrugada. Os quadros ganham vida e as paredes, até há pouco tão conhecidas - e mudas - mudam, insistem em segredar estranhas lembranças do que não vivi - memórias alheias, gritando verdades que imploram reconhecimento, para que num benfazejo dia o lamento torne-se canção, e esta torne-se caminho. Quem sabe? Não é assim tão fácil ouvir o barulho do silêncio. Silencio... o que nos une, separa - apenas um fio, no profundo frio, este amigo (ainda desconhecido).

Minha madrugada. Sou apenas uma inversão. Levanto, e o irreal acontece.

R. R.