Nietzsche: o Super-Homem

O novo mundo desperta nos corações melancólicos mais melancolia, criando uma necessidade [existencial]: a volta do homem que encarava as batalhas, as angústias, as falsas alegrias, como um cão protetor. Refiro-me, naturalmente, ao super-homem. Esta figura dorme — em um sono, absurdamente profundo, tendo como semelhança a famosa “Branca de Neve.” Porém, a noção de que este ser, independente, nunca mais abrirá os olhos de águia é errônea: o super-homem é como a ave fênix; e a fênix, como todos sabem, detém o monopólio da condição…humana. Todavia, despertar este homem do reino transcendente dos sonhos, é tarefa árdua que o “Homem-atual” precisa enfrentar. 

O gelo sombrio da realidade não acanha o super-homem, que avança a passos largos em direção à conquista deste mundo! As dificuldades ele encontra. Porém, elas são como uma espécie de divertimento para ele — acostumado a dormir com os lençóis da melancolia. As pessoas ao seu redor olham-no como um “ser-estranho”, uma espécie rara de homem que saiu das profundezas, das águas obscuras dos mares deste mundo! O fogo refrigera sua alma; os senhores de escravos o seguem como se ele fosse um profeta vindo do além-mundo! Ou seja: o super-homem não segue; ele é seguido. 

A vida para ele não existe. (Não como forma idealizada) mas como um caminho que dever ser superado: o super-homem proclama o “além-da-vida” como forma autêntica de existência. Entretanto, o leitor comum, por favor, não se engane. O super-homem não prega uma percepção religiosa, utópica da vida; mas uma versão de transcendência sensorial da vida-biológica. Para ilustrar melhor, a frase de Sartre faz-se necessária: “A existência precede a existência.” O super-homem não diria isso. Ele diria o seguinte: “A transcendência sensorial precede a existência. Logo, a transcendência também precede a essência.” Eis o remédio para todos os males que assolam este mundo!

O super-homem — do alto da floresta — canta para despertar os robôs da modernidade. A música que sai de sua garganta ressoa nas almas mundanas, produzindo uma melancolia nas árvores, gramas, frutas, águas, ou seja, o super-homem tem o poder de tornar animado entidades inanimadas. Mas quem são os seres inanimados? Será aquelas entidades que rotulamos como “inanimadas?” Ou, às vezes, as entidades [humanas] se apresentam como inanimadas? Eis uma grande dúvida que os novos super-homens terão que responder. Entretanto, o canto do primeiro super-homem ainda ganha fôlego. Querem saber quem é o primeiro super-homem? Intitula-se discípulo de Dionísio: Nietzsche.

O filósofo alemão libertou-nos das amarras de uma visão utópica da vida. Trouxe-nos de volta para o mundo para, depois, levar-nos para além dele. Eis o paradoxo de Nietzsche. A loucura foi o clímax de consciência do filósofo: calado, em uma cadeira de madeira — movendo-se de acordo com os ventos do leste — Nietzsche nos mostrou a real transcendência da vida. Ou seja, sem proferir palavra alguma; sem materializar pensamento algum; sem gesticular ordem alguma, ele mostrou que não estava mais neste mundo, mas cantando do alto das montanhas.

“Meu reino não é deste mundo!”, proclamou, Jesus de Nazaré, aos discípulos. De forma similar, o super-homem apregoa que o mundo transcendente da razão— como uma espécie de Platonismo moderno em que as formas ideias residem numa realidade transcendente. Por esta razão, é lógico dizer, que o super-homem é um novo Cristo para os descrentes que enxergam a vida como…vida. Logo, abraçar a visão transcendentalista da vida que ele prega é uma tarefa árdua: pra poucos. Por quê? Ora, poucos conseguem abandonar as muletas existenciais para andar seguindo os próprios olhos.

Diante covardia das entidades inanimadas, o mundo revela-se como um caldeamento de doutrinas que aprisionam o homem. Onde se encontra a chave que, provavelmente, abrirá as gaiolas? Quem a possui? Ora, a chave todos temos. Porém, poucos querem-na: muitos têm medo. Uma angústia que se prende, forçosamente, na garganta — deixando-nos quase sem fala. Um sentimento que não quer sair, porque tem medo de olhar no espelho e descobrir as muletas que carrega. Além disso, o super-homem diz que A vida é complexa e que uma infinidade de aparatos existenciais que tentam deixá-la mais fácil, amena. Porém, o super-homem não possui piedade para com coisas falsas e ilusórias. Ele vai marchando na frente — cantando o hino da liberdade — e despertando nas almas inanimadas uma faísca de transcendência para a vida bem vivida. A música proferida por ele abre as nuvens e revela a escuridão úmida, gélida, nodosa: a verdadeira face da existência.

dux Cheshire
Enviado por dux Cheshire em 13/05/2017
Reeditado em 13/05/2017
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