"Mais um ano que passa … Não: nós é que passamos mais uma etapa no Tempo. Este é imutável: nunca foi novo e nunca será velho. A humanidade só o concebe na relatividade das sucessões, dividindo-o, com o seu critério contingentemente subjetivo, em passado, presente e futuro.

Nas subdivisões em anos, meses e dias não consegue isolá-lo do Espaço, onde se operam as rotações e translações dos corpos celestes, pelas quais se guiam os calendários. Sim, transitórios somos nós, astros, rocha, flora, fauna, espécie humana. Tudo passa, menos o Tempo e o Espaço, cujas balizas se perdem no Incognoscível. Isto deve estar em todas as filosofias que não se contentam com os sonhos puros da razão, que a tudo procura explicar, mas que não chega a dar uma “razão” de si mesma …

Restam os Números; mas estes também não têm limites conhecidos, nem nas adições, nem nas divisões de que são suscetíveis. Os senhores matemáticos, com toda a sua pretensa exatidão, recorrem às teorias do Infinito, que eles ainda não puderam definir, como os seus colegas da física, da química e da biologia, e todos vão afinal mergulhar nesse oceano sem praias e sem fundo da Metafísica, se levam muito longe as suas investigações."





Nota>texto retirado:
27 de dezembro de 1919 - jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, sob o título “Boas Festas”. sem licença...mas com amôr, né? E concordo com ele, pois!
Augusto dos Anjos (1884-1914)
Enviado por Jurubiara Zeloso Amado em 12/06/2017
Reeditado em 12/06/2017
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