O medo nosso de cada dia

O que podemos falar do medo nosso de cada dia, que nos faz lembrar que nós, tão orgulhosos de nos denominar racionais, possuímos uma parte instintiva e irracional que não nos abandona? Ele sempre nos acompanha e, dependendo de sua presença em nossa vida, pode acabar se tornando terrivelmente prejudicial. O excesso de medo termina sendo tóxico para nossa saúde mental, tornando-nos tensos, angustiados e mesmo infelizes. Ter medo até certo ponto, principalmente se estamos lidando com situações que nos fazem deparar com o desconhecido, é normal. Mas o medo constante é paralisador, podendo nos fazer perder a autoconfiança e a serenidade. Observemos um coelho, animal que na natureza é presa, com medo. Ele fica em estado de alerta, incapaz de se acalmar, estressado e, dependendo da situação, pode até morrer. Pois nós, seres humanos, se ficarmos com medo em demasia, ficaremos tão impotentes e tensos quanto um coelhinho.

E toda a nossa evolução social não nos ajudou a viver com menos medo. Aliás, é como se fôssemos cada vez mais condicionados a temer qualquer coisa. Temos medo de não arrumar emprego, saímos sabendo que enfrentaremos o perigo da violência urbana e, devido ao fato de haver tantos assaltos, pessoas investem em segurança, transformando suas casas em verdadeiras fortalezas, com muros altos, grades, cercas eletrificadas e alarmes. Atualmente, a corrupção política nos faz sentir medo em relação ao futuro do Brasil e a mídia, que é uma grande manipuladora, contribui grandemente para amedrontar os cidadãos ao falar quase exclusivamente em crimes violentos, guerras, conflitos armados, terrorismo, fome, miséria, epidemias e desastres de todo tipo, fazendo-nos pensar que o mundo está um verdadeiro inferno.

Se repararmos bem, temos sido manipulados, desde a infância, para viver com medo em todos os sentidos. Quantos não lembram de seus pais dizendo que "Deus castiga" ou "bons meninos vão para o céu e os maus, para o inferno"? Então, tem que se ser bom para não ser castigado, não por ser o certo, e porque Deus está de olho como um censor severo e implacável, vigiando nossas faltas para nos castigar.

Também temos ouvido dos nossos pais que temos que agir certo também para os outros não falarem de nós ou a polícia não nos prender e, como resultado, vamos crescendo com medo da reprovação social e da punição legal.

Tudo bem, o medo é natural, existe e sempre existirá, porém, precisamos parar agora para pensar: não andamos pautando demais nossas decisões no medo? Se vivermos com medo, não estimularemos nossa criatividade, capacidade de decidir, pensar por nós mesmos e nos arriscar. A gente chega a não se arriscar por medo de errar. Bem, neste caso, sabemos que é mesmo preciso cautela em certas situações, pois sabemos que há o risco de cometer erros que podem nos causar arrependimentos para o resto da vida. E o que podemos concluir após analisar tudo isto? Que a vida é uma eterna incerteza e nunca teremos nenhuma garantia acerca do futuro, seja ele próximo ou distante.