RUMINAÇÕES ACERCA DOS NÍVEIS METAFÍSICOS

RUMINAÇÕES ACERCA DOS NÍVEIS METAFÍSICOS

INTRODUÇÃO

O conceito de Idílio é utilizado como um conceito diferenciado de Amor Puro: trata-se de uma faúlha divina na Terra; mas, em sua essência, o mais puro néctar da Infinitude. Com a psicologia humana, ou seja, todas as nossas emoções, vícios, paixões e desordens, este conceito é desviado de seu fulcro, tornando-se somente em aparência e fuligem fiel ao néctar original. Quanto mais desviamos destes compartimentos terrenos e mais nos direcionamos aos atributos infinitos, mais plenos nos tornamos e mais puro e profundo se torna a relação entre espíritos. Assim, não se torna uma relação entre indivíduos, mas almas. Dois entes dividem o infinito em uma bifurcação terrestre que ruma ao Uno. Entes no sentido metafísico não-fenomênico, isto é, relação anímica. O indivíduo diz respeito à projetação representacional da psicologia humana terrena e da corporificação dos ideais e valores de tal modo que a finitude, corrupção do corpo e superficialidade da linguagem. Em uma estrutura universal metafísica, há substâncias, ou seja, entes, no sentido de elementos da engrenagem máxima do cosmo. Trata-se de um conceito mais geral e, portanto, não limítrofe como de indivíduo, o qual concerne à materialidade, racionalidade e, embora um pouco amplo, restrito ao discurso social. Só há, então, um indivíduo em decorrência de sua introdução e distinção em um todo de substâncias também variáveis. Uma alma ou hipóstase, em contraste, relaciona-se a uma universalidade e profundidade ainda maior, haja vista que não possui sepulcro definicional na sociedade; mas, sim, extensão na teologia também. Por isso, o amor-próprio não faz sentido. Precisa-se desta amálgama entre duas hipóstases, para que o peso do infinito não esfacele ambos ou um deles. Idílio é a fagulha da Infinito. Deus é em si. Portanto, quanto mais profundo alguém é, iniciando na relação entre entes e não entre indivíduos, mais próximo e imerso está em Deus. O amor-próprio também envolve uma deidade ilusória, mas me refiro mais ao elemento estrutural que subjaz: imergir e suportar o infinito, no caso do Idílio, requer uma entificação relacional envolvendo mais de um, para que se plenifique. Certamente, quem persegue e alça tamanha profundidade, já possui uma trajetória espiritual e, portanto, com o Idílio, somente efetiva ainda mais. Deus em si no sentido de não se tratar de algo ao qual se relaciona facilmente: trata-se da verdade enquanto ela mesma. Alguém que se atém à infinitude diante do caos da existência possui valores baseados na extensão e profundidade ininterrupta, mesmo sabendo que seu corpo morrerá. Deste modo, já possui uma evolução espiritual bastante precoce e provecta.

Derivei o léxico “Idílio” do primeiro uso semântico e do uso literário ultrarromântico: pureza, simplicidade, virginal e ternura. O uso literário é conferido pelo movimento Ultrarromântico, o qual, à luz dos entremeios poéticos, configura um conceito implícito de conspicuidade: a Pureza e a castidade do corpo amalgamada com a da alma, assim como a contemplação estética versada nestes ideais.

1. A ESTRUTURA GERAL E SEUS ASPECTOS ÍNSITOS

Coexistem, na intersecção temporal, níveis de profundidade. Estes níveis, conforme são escavados, distorcem a temporalidade como centro de órbita do ser finito e, portanto, é necessário, acima de tudo, nivelar horizontalmente as disposições mais primárias com as subalternas inferiores. Primariamente, compete a nós a psicologização e o essencialismo bruto, cujo manancial aproximativo mais voraz são os princípios etéreos. A cavidade primária possui caráter primacial, pois substantiva e edifica as prerrogativas dos atos e potências da camada mais inferior, que é a fenomênica. Nesta camada, surgem as diversidades temporais, como o sofrimento vertido do Sofrimento Puro, o Amor romântico, vislumbres metafísicos, etc. Evidentemente, há distorção, quando, na existencialidade, remonta-se a pureza com a temporalidade remota e corrupta. Entrementes, quando o âmago é alcançado, a psicologia superada, irrompe-se esta barreira metafísica do tempo e, então, vive-se a plenitude do espírito, mesmo que se sinta, devido à barreira temporal e psicológica, somente dentro das possibilidades da condição individualizada.

Se determinado espírito se manifesta enquanto essência ínfima, ritualizando em cada ato e panegírico como fenômeno, as lapidadas profundezas do ser, quando se relaciona fenomenicamente com um indivíduo semelhante, trata-se de uma dimensão aproximativa ainda mais estigmática e, consequentemente, preconiza-se no ato o reflexo deste magma escavado até os confins da possibilidade humana metafísica. Desta forma, a transgressão se torna um abate forjado no mais profundo estribo do ser, porque não agride a temporalização da psicologia humana; mas, sim, o espírito, ou melhor, o Febo da criatura, tornando-se irreparável o dano. Portanto, quanto mais se fende as crostas da existência ao ser, mais se compromete o segundo e, paulatinamente, o próprio Ser porquanto as relações se tornam transparências mais autênticas dentro das possibilidades de manifestação. Quando uma existência se entrelaça a outra e propõe a este laço profundo, necessita ser sólida o bastante para isso. Esta solidez só é possível com mínima compreensão e domínio sobre si mesmo. Caso este laço se rompa por uma suposta falha desta extremidade existencial por engano, nada disso exime esta pessoa da culpa, pois seus atos foram direcionados a uma relação intersubjetiva, isto é, vituperou o estame existencial de alguém. É basilar que nos conheçamos o suficiente. Sem isso, não se pode utilizar termos conotativos de intensidade. Preciso ser profundo, para que meu ato também o seja à medida do meu ser. Sem isso, os atos se tornam cambaleantes e recebem certa entificação adicional a ponto de se bifurcarem na pessoa a nível de domínio. Recebem certa existência livre e perigosa, o que culpabiliza ainda mais o agente primário. Isso aumenta o grau de crueldade de alguém que pare atos com os quais não possui transparência e organicidade. Temos, portanto, nestes casos, a contrição, que é o intenso báratro de mergulho na dor da culpa e, ainda, temos a aleivosia, na qual o espírito culpado mergulha e se afoga, pois da fé mais primária não assumiu veracidade e, assim, esfolou a condição anímica do outro. Entifica uma extensão sua a ponto de existencializá-la em cada ato relacional com outros, agravando-se pelo nível de profundidade metafísica do indivíduo com quem se relaciona. Ela promove eventos demoníacos e, em contrapartida, esta pessoa se exime, pois não considera o ato em si como extensão de si mesma.

2. O IDÍLIO

O idílio, quando renegado, sufoca o ente que é oblíquo a essa força metafísica. É uma faúlha divina entregue a alma que consegue captá-la com todo o seu ser. Imagine uma criatura finita que se torna ponte entre um lastro divino e a psicologia desta terrena condição. Caso não consiga balancear isto, esfacela-se e se esboroa. Transcende a própria contingência de atualização da criatura finita. É por isso que se ama alguém. Este alguém se une a este ente que ama e juntos vivem plenamente a pureza dada por Deus. Estes poros da fatuidade que se dilata, então, solidificam-se e se unem em um cântico de um único suspiro suspenso na eternidade. Tornam-se, portanto, uma unidade: uma manifestação da imediação sacra mais bela representada na execrável condição terrena onde poucos valorizam.

3. A IMPORTÂNCIA DA SOBREPOSIÇÃO METAFÍSICA

Ultrapassou o limite do tempo migrando para a substância. Caso não existisse o tempo, pleno seria e, possivelmente, a mudança não aconteceria. Determinado indivíduo seria simplesmente o que é e, caso fosse como parecia, pleno seria sem nó no final. A questão é tentar refletir a possibilidade de sair da barreira de configuração temporal. O amor enquanto incrustado no fenômeno. Afinal, o fenômeno é uma barreira para a plenitude. Por isso, é necessário o referencial; mas, sob sua tecitude, há a plenitude idílica sem a qual o referencial nada é.

Esta plenitude idílica é completa por si. O sentir só é possível no tempo, pois se "sente algo". Portanto, para ser possível o idílio, é crucial um referencial temporal, o qual será a âncora para o rasgo rumo ao Puro. Quero, acima de tudo, que note a correspondência que faço entre o ser e a verdade, assim como a flacidez do tempo para algo se consolidar. É por isso que o "rasgo" é importante. Sem ele, sendo direta a completude, tudo seria pleno. Ele, o tempo, assim como o referencial amalgamado a ele, é um obstáculo.

4. O SOFRIMENTO

Bom, acho conveniente clarificar a definição do conceito de sofrimento. Ele me parece extremamente profundo a ponto de penetrar no nosso nume e sê-lo em plena forma. Certamente, é uma fase muito espiritual. A questão é que, assim como uma parideira que nega a maternidade, o tempo joga sua prole ao mundo nestas centelhas temporais. O sofrimento sobre o qual falo não é qualificável em plena forma, porque, sendo etéreo, não há como vê-lo como bom ou ruim, pois estes elementos morais são da finitude. Sem extensão, ele é um absoluto. É uma forma de plenitude do ser, mas que não se manifesta prazerosamente no tempo. Um modo de provar isso é a arte poética como a manifestação mais nobre de sua estirpe.