Lágrima
Tenho dias assim.
Dias que lembro das crianças mortas. E daquelas que não possuem perspectivas. Daquelas que morrem como se essa fosse a melhor das opções.
Lembrei das crianças que passam fome, das que vivem guerras que não são delas. Guerras que nos parecem tão distantes ainda que estejam tão perto e sejam tão reais quanto tantas outras que se foram antes.
Lembrei dos olhos de algumas crianças que já vi e das que posso imaginar, elas são carentes de afeto, crescem antes do tempo, herdam indiferença, buscam carinho e encontram desprezo.
Lembrei das crianças cujos olhos ardem em solidão, cujas bocas estão cheias de ódio e a mente distorcida pela podridão da miséria que as cerca.
Lembrei das crianças abandonadas em latas de lixo, das que se “perdem” dos seus fracassados pais e que jamais encontrarão cura para essas cicatrizes, sim, serão eternas..
Lembrei das crianças pois ainda há uma dentro de mim. Tão rude, irônica, irreal...
Então você se pergunta: “por que esse fascínio por crianças?”, porque sobre a dor ainda lhes resta sorrisos, gestos de carinho e brincadeiras.
Alguns adultos matariam se fossem desprezados, enlouqueceriam com a guerra, morreriam se fossem abandonados, entretanto, são considerados fortes.
Adultos choram. Crianças?
Crianças brincam.
E isso é apenas uma lágrima a mais.