Meus mortos e minhas fundas preocupações a viver...



 
        Não tenho mesmo tido nada a escrever sobre mim, além disso: Eu e meus mortos a carpir... Foram vários neste ano, além do meu ex-companheiro e sempre amigo, Jorge Lescano, em 6 de maio, amiga Eunice Arruda querida, em março, meu tio Valter em 18 de junho, alguém agora (nota de 11 de agosto) um primo em Mogi, ser parte da minha história... Carlos Felipe Moisés, professor e amigo, em Agosto.
        Soube, há algum  tempo, que tenho mais um, de cuja 'morte' não sabia. Um amigo querido desde os tempos de USP, há muitíssimos anos, um dos meus amigos que 'deram certo'. É, 'deu certo', esse meu amigo querido e tanto que, grande escritor, recebeu importante prêmio literário no Rio. Foi  com a mulher para lá, recebeu o prêmio e teve um AVC, de emoção. Internado há bom tempo, paralisado do lado direito, com a fala totalmente comprometida, não pode ser transportado a São Paulo. Sua mulher, também amiga desde os tempos de USP, alugou um apartamento ao lado do hospital e lá foi morar, sabe-se lá até quando. A vida, para muitos, acaba por se tornar uma coisa dantesca... dantesca além de todo limite. A vida, muitas vezes, é de ironia atroz.
        Jorge - também se chamava Jorge - está imóvel numa cama, numa cidade onde não tem amigos nem outros parentes, a não ser sua fiel mulher sempre ao lado. Era um grande escritor, sua vida e alma eram a literatura. Uso todos os verbos no passado porque ele está praticamente morto. Morto para a sua própria escrita e literatura, porque isso lhe é a morte-viva. Não consigo  dizer diferente, perdoem-me. Quem sabe aconteça um milagre. Gostaria de crer em algo assim, um pouquinho que fosse.
       Jorge esteve presente na livraria Belas Artes quando lancei, em outubro de 2008 - há ... séculos... - meu livro "Flores do Outono".



Nota de 06 de setembro. Meu amigo voltou para casa em São Paulo. Voltou, mas, não fala, não pode usar o braço direito... Tomara a fisioterapia restaure o possível de sua vida, que era escrever... Tomara, meu Deus!



Ah, e a minha sempre e cotidiana e fundíssima preocupação com a saúde de outros seres amados, assim como com a minha própria (sem contar outras doloridas preocupações e duros impasses). Peço por nossas vidas todo o tempo. Urge que acabe este tempo de 'fim de mundo'. Urge. Que acabe logo. Amém.



Esta foto de há 25 anos para matar saudade de um tempo menos... mais feliz.