Mãe

Quando você pousava as mãos na minha cabeça, quando você bagunçava meu cabelo. Foi o tempo do impossível, do amor incondicional. E me chamava de “meu anjo”, “meu amor”. E não existiam pesadelos em ombros gentis, em afagos desmedidos. Seu olhar macio, um colo farto. E eu só queria isso para sempre, essa coisa de ser filho, de ser criança. Exaspero-me de saudade dos tempos de você ralhar comigo, de me chamar a atenção.

Tenho medo de noite. Tenho medo de mãos invisíveis me tocando no escuro. Tenho medo de ser sozinho. Você me preparou um caminho tão doce, um singro tão seguro. E eu queria de novo o cheiro de pão caseiro, as risadas pueris.

Meu tórax às vezes dói tanto, me espremo em mim, recolho os joelhos junto ao peito, vou me diminuindo. Querendo voltar ao início. Para um tempo de nós bem perto, da gente seguro um no outro. O tempo nunca engole o que passamos. Talvez devesse ter me agarrado para sempre no cordão umbilical, assim a gente nunca distanciava.

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 12/09/2017
Código do texto: T6111975
Classificação de conteúdo: seguro