O Cacto e o Balão

O cacto conhece um balão. O balão gosta muito do cacto.

Mas o amor deles não é possível, a menos que os dois mudem e se adaptem ao relacionamento. O cacto pode perder todos os seus espinhos, para não machucar o balão, mas aí deixará de ser um cacto, será apenas uma planta desmembrada, sem sua proteção natural.

Da mesma forma, o balão teria que se armar contra os espinhos do cacto, mas quem gosta de levar uma vida com armadura, sem poder relaxar, ser você mesmo? Toda vez que o balão se entregasse, se machucaria. E curativos seriam feitos, dia após dia, até que o balão estivesse cansado e deixasse de ser um balão, pois com tantas “feridas no corpo” não poderia mais voar.

O cacto não foi feito para o balão, e o balão não nasceu para amar o cacto. Mas eles podem dar um jeitinho, arrumar maneiras de não se machucarem nem se anularem, e para isso precisariam de diálogo e compreensão.

Ninguém deve se anular por ninguém. Estar com alguém que só faz machucar não é agradável, nem saudável para nossa autoestima, pois no fim não seremos mais um cacto, nem um balão, seremos apenas seres feridos e vitimizados, possivelmente melancólicos e carentes, e o outro não nos reconhecerá. Isso faz acabar o amor, a confiança e o respeito.

Nossos sonhos existem para serem realizados, e nada – nem ninguém – tem o direito de arrancá-los de nossas vidas, seja qual for o motivo. Todos temos nossos espinhos e, mesmo não desejando, será inevitável que alguém se machuque ao nosso redor, mas nem por isso devemos nos esconder do mundo, pelo contrário, devemos nos aceitar e manter por perto apenas os que sabem conviver e compreender.

Mas também somos balões, frágeis demais perante os espinhos. Alguns curativos são parte do caminho, algumas pessoas valem os furinhos e fitas pela nossa alma. Os arranhões vão nos endurecendo, fortalecendo contra os espinhos mais duros, mas a armadura nos esconde, não deixa que os outros se aproximem e nos conheçam como somos de verdade.

Não interessa se somos cactos ou balões, o que importa é sentir e viver o que nos for sincero, o que desejamos profundamente. O que não vale é nos despir de nós mesmos, deixar o que somos para trás, só para ser aceito. O outro pode valer muito, mas nada importa mais que você.