Adeus

“mas eu nunca fui um mar azul e calmo

eu sempre fui uma tempestade”

Sinto muito, mas enfim é hora de te deixar partir. Manter algum tipo de sentimento - bom ou ruim - seria mantê-lo vivo dentro de mim. E isso não pode mais acontecer.

Eu preciso, enfim, te perdoar de verdade. Eu menti quando disse que já havia feito isso. Te desculpei por (quase) tudo. Mas não perdoei com todo meu coração e, agora, pago por isso. E sequer isso é com você ou algo seu. É comigo. Meu. Tornei-me “inamável”.

(eu tenho uma guerra em minha mente)

Quando digo que me tornei “inamável” é porque, desde que te deixei ir, eu não consegui deixar mais ninguém chegar tão perto a ponto de conhecer minhas fraquezas/sentimentos e permanecer aqui. Não por ainda sentir algo por você, mas por medo de que o mesmo roteiro, que seria o de um filme ruim de Hollywood, se repetisse.

(eu não quero ficar sozinha de novo; eu não quero ter de me reconstruir

cada vez mais faltando peças - de novo)

Não é culpa totalmente sua tudo o que me causou. É, principalmente, minha, porque lutei demais e nadei por muito tempo contra a corrente para que isso desse certo. E, enquanto as lágrimas caem dos meus olhos e inundam estas linhas, eu penso em como posso fazer para possuir novas e profundas relações depois que abri a porta para você ir embora. E levar embora minha capacidade de amar.

Sei que em algum momento toda pessoa passou ou vai passar por isso. De pensar que não será mais capaz de se abrir. Muitos, por amor. Alguns por desamor, como eu. Mas por que isso não vai embora de uma vez?!

Já tem um ano e meio. Vários passaram, alguns permaneceram e outros querem ficar. Porém, eu não deixo. Eu me fecho. E me isolo. E me afasto. E me recuso.

(eu desejo a você todo o amor do mundo

mas, acima de tudo, desejo isso a mim mesma)

Escrevo estas linhas como forma de, enfim, me despedir. Eu preciso que você me deixe ir. Preciso, verdadeiramente, me curar e me abrir para o mundo. Perdoar você. Ser, novamente, eu mesma. E me perdoar por ter te amado de uma forma que, depois, partiu meu coração em tantos pedaços que não consegui reconstrui-lo e me preparar para uma próxima vez. Uma próxima chance.

Neste momento, vieram vários flashes na minha cabeça de momentos nossos. Engraçado como meu cérebro e coração funcionam. Eu pensava em coisas boas e, imediatamente, vieram as ruins. As brigas, a forma como gostávamos de despertar o pior que havia um no outro, as discussões em que eu acabava sempre chorando e você puto, a violência… acho que eu treinei tanto isso quando precisei desse “combustível” que agora é até involuntário. Mas não quero mais fazer isso.

Até poucas semanas eu estava razoavelmente bem resolvida com isso. Tinha aquela ressalva natural de lidar com meu ex e seguia tendo carinho por você, desejando que um dia fossemos amigos (pois, quando você se foi, muito mais que um namorado, perdi meu melhor amigo), mas uma coisa que me disse alterou tudo: “você mudou e é uma pessoa totalmente diferente do que conheço”.

Você tem razão. Não sou mais a mesma.

meus sentimentos? eu escondo

meus sonhos? não consigo encontrar

meu lugar? nunca tive e ainda não tenho

Eu mudei. Não consigo mais acreditar tanto nas pessoas quanto gostaria. Não permito que me vejam como realmente sou. E, agora, luto para que eu mesma veja como sou e me dê o devido valor que tenho.

Adeus, meu querido. Eu preciso me reencontrar. Me refazer. Me envolver. Me reerguer. Me reapaixonar.

Jamais esquecerei tudo de bom que me proporcionou e que vivemos. Foi tudo verdadeiramente especial e bonito. Mas eu preciso esquecer o quanto quebrou meu coração e me feriu também. Preciso esquecer esses traumas e conseguir viver verdadeiramente. Te desejo o mesmo. Que você possa se perder… para se encontrar.

“a cada noite, eu sinto um pouco menos

não tinha isso há muito tempo

mas, naqueles anos, eu não soube lidar com a estrada

então eu tento dizer ‘adeus, meu amigo’

eu gostaria de te deixar algo ardente

mas eu nunca fui um mar azul e calmo

eu sempre fui uma tempestade…”