A CRIPTOGRAFIA ESPIRITUAL

Como alguns sabem, a Bíblia está estruturada quase que totalmente sobre parábolas, metáforas, simbolismos, fábulas e genealogias (histórias), da mesma forma como são elaboradas as histórias infantis (branca de neve, os três porquinhos, a bela e a fera, ou a fábula da formiga e da cigarra, etc. etc.), e ainda sobre um sentido literal para grande parte dos seus textos, mantendo, porém, o seu verdadeiro sentido, que é a substância, a essência, ou aquilo que realmente está sendo transmitido, subjacente, oculto, e disperso pela Bíblia. Esse expediente foi adotado para que os Profetas e seus seguidores se protegessem dos seus perseguidores, impedindo-os de alcançar o seu sentido efetivo que exacerbava ainda mais as perseguições, pois contrariavam a lógica e os interesses comerciais daqueles astuciosos que lideravam as comunidades e vendiam conhecimentos supostamente do mesmo gênero, mas na verdade, uma mistura de sofismas com as histórias e os textos mais facilmente compreensíveis. Aliás, estes dois últimos aspectos continuam vigorando na atualidade, bastando apenas observar os supermercados da fé.

Aqueles que estudam a Bíblia baseando-se nessas fábulas e genealogias bem como no seu sentido literal, evidentemente, não conseguem alcançar a substância, ou a sua essencialidade, e quanto maior for o nível intelectual do estudante, maior será o impacto contraditório entre a razão (a lógica) e o espírito (a sabedoria), porque para aquela o limite está na racionalidade do Homo Habilis, e para este o limite está no grau de espiritualidade do Homo Sapiens. Temos então, o confronto entre Logus x Sofos, ou se preferirem, para se tornar mais específico e completo, entre Theologia x Theosophia.

A Theologia restringe a sua atuação à Primeira Aliança, ou seja, ao Ministério de Moisés, muito embora ela admita apenas em tese o Cristianismo, sobre cuja doutrina, a Graça, ela não consegue e nem deseja penetrar, pois aí temos a Segunda Aliança, que anula e substitui a Primeira Aliança, cujo fundamento é a Doutrina da Graça, que praticamente, é inacessível à exploração comercial, deixando de interessar às denominações teológicas. Então, uma delas criou e enalteceu uma “deusa” com muitos nomes, (Jeremias 7:17,18 e 44:17a19) (Atos 19:24a28) à qual dedicaram nominalmente a grande maioria dos seus templos de pedra, e criaram muitos “santos” (Isaías 2:8 e 44:9a20) para agradar a todos, e atualmente estão investindo pesado na nomeação de “santos brasileiros”. As denominações teológicas que surgiram da Reforma, que se inspirou na Doutrina da Graça, logo se distanciaram deste fundamento, e também se agarraram ao Ministério de Moisés, pelos mesmos motivos, apenas não adotando a “deusa” e os “santos”, incorporando mudanças somente nos seus rituais e solenidades, e erroneamente, adotando uma Bíblia própria, que exclui os preciosos livros Sabedoria e Eclesiástico.

A Theosophia se relaciona exclusivamente à Doutrina da Graça, compatível também em caráter exclusivo, com a Segunda Aliança, por onde as leis de Moisés migram das tábuas de pedra para o coração do ser humano, conforme (Jeremias 31:33 e Hebreus 8:10), mediante o insight espiritual que estabelece o novo nascimento, obtido pela Misericórdia do Pai, pelo Amor e pela Graça do Filho, através da Unção do Espírito Santo, conforme (João 16:12 a15) e (I João 2:27). A partir desse evento espiritual, o renascido passa a ter acesso intuitivo a conhecimentos espirituais, de acordo com os dons que lhe forem potencialmente conferidos (I Coríntios 12:1a11). Como o conhecimento espiritual é loucura para a razão, somente as pessoas também espiritualizadas, com dons compatíveis, poderão se compreender mutuamente, pois esse tipo de conhecimento é transmissível exclusivamente de espírito para espírito.

Pela sua importância, e como um exemplo a ser analisado por aqueles que estudam os aspectos espirituais, mesmo que ainda não tenham sido contemplados com os insights espirituais, vamos examinar como ocorre o nascimento de Cristo, o Filho do Homem.

Em certo momento da evolução espiritual, no que nos diz respeito, como efeito da Segunda Aliança, (a Graça) passa a ocorrer, progressivamente, a impressão das leis mosaicas na mente e no coração do homem, concedendo-lhe e ampliando o discernimento espiritual mais profundo, como uma característica específica do novo nascimento, pois o homem, antes de nascer de novo, está morto espiritualmente. Mas quando a Promessa “... na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei...” é cumprida, ocorre, simultaneamente, o nascimento de Cristo e o novo nascimento do homem (Efésios 2:5,6), que então passa a viver no Espírito de Deus. O cumprimento da Promessa é a concretização da Nova Aliança, quando então Cristo ressuscita dentre os mortos, (que somos nós) nos quais Ele também estava morto.

Portanto, a maior e a mais importante de todas as bênçãos para o Ser Humano é o novo nascimento, quando ele é transferido do Ministério de Moisés, da Lei, para o Ministério de Cristo, da Graça. Quando isso acontece, uma profunda mudança passa a se desenvolver no agraciado Cristão, conforme os dons espirituais que lhe forem conferidos. O novo nascimento é o “passaporte” para a entrada na “Terra Prometida”, onde a Lei não entra, assim como Moisés, o simbolismo da Lei, também não entrou. (Deuteronômio 34:1 a 6)

Podemos também observar que Cristo não escondeu o que Ele realmente É. “Eu sou a Luz do mundo”. (João 8:12) “Eu sou a Brilhante Estrela da Manhã” (Apocalipse 22:16), e podemos compreender que Cristo está morto, na racionalidade sem a Luz, assim como a racionalidade está morta, no seu próprio espírito sem a Luz, e que a ressurreição de Cristo ocorre simultaneamente ao novo nascimento do cristão, que nasce no Espírito de Deus, quando essa Luz nasce no ser humano, assim como nasceu no Apóstolo Paulo, por exemplo, como consta da Bíblia. (Atos 9:3 a 5)

Por sua vez, o próprio Filho de Deus, a Luz, nasceu da Sabedoria (Sophia), esta sim, a “Virgem Imaculada”, que foi fecundada pelo Espírito Santo de Deus, daí derivando a Ciência de todas as Ciências: a Theosophia, ou a Sabedoria Divina. (Eclesiástico 24:6,24)

Estamos em pleno século XXI, usufruindo do espetacular avanço tecnológico alcançado pela Humanidade no terreno da racionalidade, mas o mesmo não ocorreu no plano espiritual, onde ainda observamos a adoração de estátuas o culto a santos e entidades diversas, onde acreditamos em fábulas e genealogias, incapazes de perceber o seu sentido metafórico, onde fazemos um deus à nossa imagem, onde nos submetemos espiritualmente a instituições comerciais que se apresentam como intermediárias entre Deus e os homens, onde adoramos a própria racionalidade, atribuindo-nos a condição de “sapiens”, apesar da vergonhosa história da própria humanidade, como um incontestável e deprimente paradoxo diante da sua evolução tecnológica. A realidade nos exibe a decadência ética e moral da humanidade, que iniciou a sua organização na formação de tribos, e que decorridos milhares de anos está ainda nas mesmas condições, como tribos que se confrontam em todo o Planeta, movidos pela cobiça, pela inveja, pelo orgulho e pelo ódio. Afinal, como corolário da nossa “sabedoria”, estamos empenhados mais do que nunca, em razão do nosso “poder tecnológico”, na destruição do Planeta. Mas, como somos “sapiens”, gastamos enormes recursos investigando curiosamente o Cosmos e procurando outro Planeta para morar, em lugar de cuidar melhor do nosso e resolver em definitivo os grandes e variados problemas tribais que deveriam nos envergonhar.

Os apologistas da racionalidade insistem na procura por argumentos que indiquem a inexistência de Deus, ou a sua desnecessidade, até mesmo procurando erros nas suas obras, na tentativa de desconstruir as ideias de onipotência e onisciência. Além disso, eles ficam confusos, procurando as origens de tudo, inclusive a origem do mal, onde também ficou encalhado o grande Pensador Agostinho. (Ele não leu Isaías 45:7) Os racionalistas não conseguem compreender que na própria Natureza de Deus se encontram todas as circunstâncias do Universo, da mesma forma que o Homem é o universo das suas próprias circunstâncias, inseridas também na sua natureza, e aí está a “imagem e semelhança” entre Deus e o homem. Mas, a plena compreensão espiritual, felizmente, não pode ser transferida pela vontade humana, para que o demônio não seja também esclarecido, (Mateus 13:10 a 23). Talvez a impetuosidade da razão possa ser suavizada, surgindo o sincero desejo de estudar imparcialmente, sem fanatismos, sectarismos ou preconceitos, por exemplo, e entre muitos outros, todos os textos bíblicos que foram indicados em todo este texto, os quais permitem a sua melhor compreensão, mesmo porque o desejo de saber não se realiza sem a obstinação.

Com relação aos conhecimentos racionais e os conhecimentos espirituais, podemos estabelecer um paralelo na sua respectiva obtenção, tendo em vista a identificação das vertentes por onde eles podem ser alcançados. Os conhecimentos racionais começam a surgir no âmbito familiar, onde as crianças partem do zero, e avançam conforme o grau intelectual da família até o momento em que passam a serem adicionados os conhecimentos obtidos nas escolas, desde o jardim infantil até o ensino superior. A esses conhecimentos são acrescentados todos os que cada indivíduo consegue construir, por si mesmo, e inclusive os produzidos pelo seu relacionamento pessoal no convívio social.

Quanto aos conhecimentos espirituais, a sua trajetória e o seu desenvolvimento são totalmente diferentes, pois eles não são transmitidos pelos padrões humanos, mas única e exclusivamente por meio dos insights espirituais, que transcendem a racionalidade, como eclosões que ocorrem no espírito humano, abruptas e independentes da nossa vontade, como aconteceu com o Apóstolo Paulo, que inclusive discorre sobre a origem dos seus conhecimentos (I Coríntios 2:1a16). Nossa participação para a obtenção desses conhecimentos reside na nossa disposição em obtê-los, e do nosso efetivo empenho na sua aquisição, pois “os que Me procuram Me encontrarão” (Provérbios 8:17). O conhecimento espiritual é o “maná” ou o alimento distribuído ao povo no deserto, é o “pão da vida” ao lado da “água viva” que é a sabedoria, é o “pão e os peixes” com que Cristo alimentava as multidões, cujos “cestos” nunca se esgotavam.

O Homo Habilis, definitivamente, precisa compreender que para romper a criptografia espiritual, ele precisa se dedicar com disposição e ousadia (Mateus 7:7,8), mergulhando nas profundezas e escalando as montanhas, deixando para trás o conforto da superfície das planícies, preparando-se para receber a visita de Sophia portando a Luz de Cristo, através da unção do Espírito Santo. Ocorrendo essa Graça, ele terá nascido de novo, nos termos de (I João 2:27), e no êxtase espiritual será transportado para o topo da montanha e admitido no “Palácio da Theosophia”, a “Terra Prometida”, onde só poderão entrar os nascidos de novo (João 3:3,5), na Luz de Jesus Cristo. (II Coríntios 4:6) (Mateus 13:43) (Daniel 12:3) (Filipenses 3:20,21) (Sabedoria 3:7)

Feliz jornada para todos os Leitores, especialmente para os intrépidos “mergulhadores” e para os valentes “alpinistas”, que escapam da superfície das confortáveis planícies, não permanecem olhando para o chão, mas examinam os mistérios das profundezas e também contemplam a beleza das estrelas!

Edgar Alexandroni
Enviado por Edgar Alexandroni em 10/11/2017
Código do texto: T6167804
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