Sobre ser-se.

Por exato, a vida não é a mesma. Deturpadamente vemos o outro como figura nossa. A alegoria da vida nos passa pela imagem de que os outros nos tem. Embora pareçamos nos ser, estamos constantemente limitados ao que os outros nos imaginam; ao que nos é consagrado. Ser é limitado. Mas, ainda que por isso, tenho em mim o gosto e admiração pela palavra dita brutalmente, pela carne crua que dilacera a voz do meu falso ser. Elas, verdadeiramente, não me alienam por aquilo que sou, por aquilo que tenho e posso ter. Posso, na medida em que ouço o que é me hiato. A partir disso, nasce minhas ideias, o meu ser; único e particular, que vive em vista da internalização do contrário, das possibilidades da contramão. Viver conforme o que se diz, sendo este, o que se quer ouvir, gera erro contra nós mesmos e nos faz caminhar pela superficialidade da vida, gerando uma criação desumana do grito articulado que não me é exterior por medo do vácuo profundo em que me insiro, no qual , meu som, não pode ultrapassar. Ouvir a palavra não dita, o verbo não conjugado, me faz ser pleno de mim mesmo, excluindo toda a inanidade que se vive. Eufemizar a vida é, pois, torná-la aprazível à minha noção do que não sou. Lembro-me de ter interdito a maneira que sou na medida que me achei em sociedade. Logo eu, que gosto, por vezes, de me refugiar no abstrato das coisas.

Luis Benevides
Enviado por Luis Benevides em 07/12/2017
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