A descoberta do eu

Esse prazer de mim mesmo, apetecido diariamente, é uma incógnita. Amo-me ser na medida do meu eu. Que triste seria ter sonhos que não pertencem a mim, mas a um falso ser criado por outro que não é. Tenho me dado a chance de revelar-me um ser da melhor espécie, que nada mais é do que o momento em que se olha no espelho e enxerga a essência de um humano que nunca fora, até agora. Olho. Me observo. Vejo o que cruamente um homem fez de um homem, e não entendo. Por que um homem o faz quando na verdade o que se espera é que já o tenha nascido feito? Fazer-me talvez tenha sido o meu modo aprazível encontrado de me encaixar em uma sociedade que não me pertence; que inclusive os seres que já se encaixam também não pertencem, apenas imaginam pertencer. Eu que por um reflexo me permiti ser, por que não os outros? Essa reverberação de um eu em mim mesmo só não é além porque não descobri o quanto posso ser. Não sei se posso além do que devo, pois a tanto tempo já não me reconhecia que só hoje vejo o quanto nunca fui, sem ao menos se quer imaginar o que posso ser agora. Posso eu ser? E sendo, o que me permito ser? É uma incógnita difícil de ser resolvida, mas que preciso saber resolver, pois um ser que a vida inteira viveu quimericamente associado ao seu cotidiano, uma hora ou outra precisa se descobrir, mesmo que cause a morte de sua própria existência.

Luis Benevides
Enviado por Luis Benevides em 11/12/2017
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