O pior tipo de vaidade

Embora a vaidade seja considerada um pecado capital e nossa cultura judaico-cristã nos ensine que devemos ser humildes, a verdade é que todo mundo, de uma certa forma, é vaidoso e a vaidade não é apenas usar roupas caras, cuidar da aparência e usar acessórios de luxo, embora, ao pensarmos em gente vaidosa, essa seja a primeira imagem que nos vem à mente e o interessante é que, apesar de nossa sociedade dizer que pessoas que gostam de usar roupas caras ou fazem de tudo para melhorar a aparência são fúteis e superficiais, o capitalismo alimenta esse tipo de comportamento. Podemos ver muito bem que as indústrias cosméticas e o comércio de roupas vendem muito. Já se disse que a vaidade seria o pecado favorito do diabo mas, convenhamos, na nossa realidade, é o que dá mais lucro à nossa sociedade de consumo e ostentação.

Bem, como sabemos, vaidade vai além de ostentar bela aparência e, admitamos, é normal e faz parte do nosso comportamento. Por que um grande cientista não deve se sentir vaidoso de sua criação e/ou descoberta; o artista não pode se sentir vaidoso após criar uma obra-prima e um grande atleta teria que sufocar sua vaidade depois de quebrar um recorde ou fazer uma performance memorável, digna de uma medalha? E, nestas hipóteses, tais feitos são realizados depois de muito esforço e sacrifício. É mais do que justo que essas pessoas se orgulhem do que realizaram. Não se está aconselhando ninguém a ser arrogante e humilhar os demais, julgando-se superior, apenas dizendo que uma pessoa tem que reconhecer suas qualidades e o esforço que fez. Ninguém evolui se não reconhecer seu próprio valor.

Entretanto, vivemos numa sociedade que, ao mesmo tempo em que depende de um capitalismo que lucra com a vaidade, prega uma moral cristã que a condena, o que dá origem ao pior tipo de vaidade: a que vem disfarçada de modéstia. Este é o pior tipo de vaidade, a hipócrita. Essas pessoas adoram posar de humildes, dizer que não dão valor a coisas supérfluas, materiais, aparência e muitas fazem questão de viver na miserabilidade, como se a vida tivesse de ser uma penitência, e andar com roupas rotas, dizendo que seus valores são os morais e espirituais. Se repararmos bem, elas são as que mais apontam os dedos para quem é bem-sucedido, tem boa aparência e vive confortavelmente, dizendo coisas do tipo: "Fulano anda com carro de luxo e se diz cristão"; "Aquela mulher faz questão de usar joias de ouro e vestidos de seda". No fundo, elas são arrogantes, embora posem de humildes. Querem dizer que são melhores do que os outros e ostentam uma modéstia falsa, que soa ridícula, porque qualquer pessoa que observe com atenção seus discursos e atitudes logo verá que sua aparente humildade esconde uma monstruosa vaidade e tentar passar por humilde, chegando a deixar de viver a vida, não tornará ninguém uma pessoa melhor, principalmente porque muitas dessas pessoas forçam os seus a viver uma vida circunscrita e insatisfatória, sacrificando-as em prol de sua vaidade hipócrita.