(Profissão de fé)

Não me aceito em cacos: ou sou completa, ou mosaico, reconstituído detalhadamente... Incompletude não me serve! Desfeita em pedaços não me aceito... Se me dou, é por inteira, e, se cedo, acedo ao meu ser. Mas inteira quero sempre estar... Não desfaleço fácil, nem fácil me torno porcelana: só com as dores do corpo (posto que sou humana); para as da alma, tomo o analgésico do amor próprio, cuja contra-indicação seria pra qualquer covarde, medrado pelo obscuro. Como meu foco é pautado na luz, não temo o breu. E, se a luz enfraquecer e não der pra iluminar-me os caminhos, vou aos tropeços, ralo a pele, chuto as pedras e firo os dedos, quando podem até saírem-me lágrimas. Todavia, seco-as...

Perco o fôlego mil vezes; reajo mil e uma, mediante minha vontade de guerrear contra o que não me apraz, interceptando meu caminho, traçado por objetivos limpos e retos: não me agrada em nada viver sob a capa da inveja. Acuada, desfiro golpes, se for o caso, mas dou a mão (e uso dela pra acariciar, tocar e sentir...); beijo e abraço, apertadamente, mas nocauteio (direto pra lona, sem dó!), se houver motivos pra me defender. Sou da hermenêutica – epistêmica ou ontológica, nem sempre importa; e com um mínimo de propedêutica, o que dá pra (sobre)viver nesse mundo, até comigo mesma ...

Choro e rio (mais rio do que choro), porque as lágrimas, essas, escorrem-me mais pela alegria do que pela tristeza - a qual abstraio - sempre que possível. Até porque, lágrimas de alegrias não contam - são arroios que refrescam caminhos - os de um rosto constantemente afogueado pela ânsia em viver, ou por alguma timidez que ainda me persegue...

Quase nunca choro pelos golpes em mim desferidos, porque meu corpo, aparentemente frágil, é razoavelmente forte para as rasteiras que a vida me dá. Só não é tão forte quando permito (e se permito) entregar-me, intensamente: é aí o único momento em que, desarmada, deixo-me “cair” por (êxtase) tamanha fragilidade de um ser, totalmente incapaz de

não sentir...

(ACEITO O DESAFIO, caro poeta: pareço rebelde??? Atrevida??? "Hiperbólica", ou autossuficiente???... Só sou eu, despida de artimanhas, pode crer: uma leoa (aliás, leonina) sob a pele da candura.

E nem mencionei nada sobre meu casal de filhos... Assunto perigoso, em que a leoa vira, se preciso for, uma fera perigosa e salivante - se deles alguém ousar judiar...)

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 13/01/2018
Código do texto: T6225149
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