Rascunho em preto e branco

Hoje senti saudade de amores que nunca tive, afagos não recebidos, histórias imateriais. Vez em quando o vazio traz consigo a ausência de excesso como lembrete da efemeridade. Sinto desalento e dor pelas vias desfeitas e os espinhos que me sangraram a pele - alguns mal me recordo, outros fizeram-me cicatriz. Uma linha úmida que escorre na maçã do rosto seguida de um suspiro resignado, conto até três repetidas vezes e sorrio como quem se aceita. Não desejo compreensão com pesar, são detalhes que me tomam e passam, permito-me o desatino em noites silenciosas. Me vem saudade de coisa indizível, daquela prosa sem título, ponto final sem início porque nada se deu. Eu sou um punhado de rascunhos ilustrados em preto e branco, porque nunca me deram cor, porque vejo-me incompleta, porque já passa da meia noite e o peso das horas me inquieta. Saudade dessas de apertar o peito feito nó de marinheiro.

Lemos castro
Enviado por Lemos castro em 15/01/2018
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