Longos anos de abusos

Em um relacionamento, após longos anos de abusos - sejam físicos, sejam emocionais - é mais do que normal que o amor morra. Não morre rápido, mas devagar, como uma planta que murcha e seca por falta de cuidados. Quem sofre contínuos abusos não consegue manter os sentimentos que inicialmente possuía. E quem conseguiria conservar o amor por alguém após tanto tempo sendo desrespeitado e/ou fisicamente agredido? Até os pequenos gestos abusivos que a princípio passam despercebidos nos machucam imensamente depois que refletimos e percebemos o que realmente significam. Podemos citar como bons exemplos de pequenos gestos as piadas, apelidos ridículos e depreciativos, as vezes em que aquela pessoa nos fez passar por idiota. E quando notamos que ela nunca teve o menor pudor em nos desconsiderar na frente de gente estranha?

Ser magoado, considerado como alguém incapaz e sentir que fazem questão de lhe tratar como você odeia só podem lhe levar a um estado de insatisfação permanente. Como é perceber que seus sentimentos não são importantes para aquela(s) pessoa(s) que deveria(m) se importar com você? Aguentar alguém lhe ridicularizando, diminuindo as suas qualidades e realizações só poderão fazer com que conclua que não dá para amar uma pessoa tão rude e insensível, incapaz de tentar lhe entender ou dar apoio.

A própria percepção de quem realmente somos, isto é, de nossa identidade pessoal, vai sendo seriamente afetada com o tempo e os abusos. Vivendo ao lado de alguém que nos xinga e humilha faz com que desconfiemos que provavelmente somos mesmo burros e inúteis e que é a nossa incapacidade que faz a pessoa nos maltratar. Pensamos que somos um peso na vida dela.

Assim como o amor, vão morrendo muitos dos sonhos que tínhamos em relação a uma vida junto daquela pessoa, pois vamos perdendo as esperanças antes tão intensas. Tais esperanças se provaram vãs e só concluímos que perdemos tempo, dedicamos esforço a algo que nunca valeu a pena. E chegamos a nos sentir encurralados, como se houvessem nos posto sob uma redoma através da qual ficamos vendo a vida passar enquanto a nossa está estagnada. Como consequência, não conseguimos enxergar nenhuma saída. Porém, nenhuma situação é irremediável e existe uma solução. O problema é que nossa mente, prejudicada por tantos abusos, está com o discernimento afetado. Dependerá de nós conseguir encontrá-la.