O fim

Não é que eu não gostasse dele. Mas eu odiava a pessoa que EU era quando estava com ele.

De repente tinha que me fazer ouvir, e não era ouvida.

Repetia, repetia, repetia, até que gritava, e nada..

E como não ser ouvida me afetava,

Eu precisava só de uma vez, não podia mais e nem queria gritar, queria poder dizer apenas uma vez, da forma desencanada como pensei, só dizer, ser escutada, ser respondida e pronto.

Mas não, ele não escutava.

Tanto que não entendeu, não entendeu nada, foi pego de surpresa quando desabou, simplesmente porque não escutou.

E quem eu me tornei? Alguém que eu não conhecia e muito menos gostava, a infeliz que vivia com o surdo, o cego, o pior cego, o cego de Ego, não escuta e não vê nada além de si.

O preço foi brutal, a revanche, foi cruel, e doeu, como doeu.

Me dilacerou, mas nem mesmo com as ações mais cruéis, conseguiu me destruir tanto como fez ao não me escutar, porque na dor, na tragédia, na perda, eu sofri como eu mesma, com as MINHAS dores, os MEUS sentimentos, era EU.

E na relação, eu já não sabia quem ser, e odiava quem estava sendo.

Havia apenas uma certeza, não ser ouvida, e isso cara, sinto muito, isso não deu pra mim.

Então me perdi, e quando me perdi de mim, fui obrigada a abrir mão de você, porque agora eu tinha alguém mais importante pra procurar, eu mesma.

Aquela pessoa leve e querida que eu amava ser, o amor da minha vida, eu mesma, e sem essa eu não podia viver.

Não, eu não morri, sim, você tentou me matar, matar minha esperança no amor, nas pessoas, na família, em mim mesma, mas não, você não conseguiu.

Eu felizmente, mesmo cega de tanta dor, pude me achar em meio a escuridão, porque me busquei não com os olhos, mas com o coração e é somente com o coração que se pode ver, e somente com o coração é que se pode realmente ESCUTAR.

E você, você não escutou!