É fácil culpar a vítima

É fácil culpar a vítima do estupro, a mulher que apanha do marido ou quem sofre bullying, não é? A gente tem uma tendência a culpar a pessoa que sofre violência, como se houvesse justificativa para atitudes abusivas, desrespeitosas e violentas da parte de quem não liga para o fato de estar nos maltratando.

A gente diz a uma mulher que sofre com um marido abusivo que ela é fraca, passiva e se deixa dominar. Mas será que agiríamos diferente em situação parecida? Uma mulher que apanha, é diminuída e xingada fica com sua confiança tão abalada que chega a se sentir incapaz de enfrentar seu abusador. Algumas até aceitam (ainda que inconscientemente) que os maridos as maltratam porque elas os aborrecem com sua "burrice", "falta de capacidade" e "imbecilidade".

Quem sofre estupro ainda tem sua conduta posta em dúvida. Sempre se insinua que a mulher estuprada provocou a violência. Tal preconceito é fruto de nossa cultura machista e com certeza não nos livraremos dele tão cedo. Porém, é preciso que o combatamos com toda nossa força. Seja qual for a conduta da mulher, isso não diminui a responsabilidade do estuprador. Dizer que a mulher é culpada pelo ato de covardia e humilhação que sofreu é absurdo e desumano.

Também se culpa quem é vítima de bullying. Os alvos de agressão, piadas e intimidação sempre são os mais tímidos, quietos e que se encaixam nos padrões considerados não aceitáveis. É comum que a vítima não tenha coragem de pedir ajuda por se sentir aterrorizada com os ataques vindos do nada e sem motivo aparente. E, se outros souberem do problema, o mais provável é que ela é a culpada por ser uma fraca. Temos o direito de chamar de fraco alguém que se sente humilhado e é perseguido de forma violenta e constante?

Culpar a vítima é tentar diminuir a responsabilidade do agressor ou abusador. Pensem em como é para alguém, além de sofrer uma violência, ver que não lhe apoiam e ainda apontam dedos, parecendo dizer que foi ela que errou, não quem a feriu. Isso não é distorcer a verdade?

Se uma vítima se sente incapaz de se defender ou de procurar uma saída, não é para culpá-la. Ela deve ser auxiliada para desenvolver a sua autoestima. Apenas quando recuperar sua confiança ela encontrará forças para enfrentar a situação.