Faróis e portos

Ele era um farol.

Sim, a vida lhe havia ensinado que existem dois tipos de pessoas: as que são faróis e as que são portos.

Um farol está sempre firme e forte no mar, sozinho contra as ondas e sempre aceso para guiar os marinheiros perdidos.

Era o que ele fazia, era só o que ele podia fazer.

Havia a conhecido no momento em que ela estava presa em meio a uma tormenta. Sozinha, desolada, assustada e perdida. Naquele instante ele soube que devia ajuda-la, protege-la e coloca-la de volta em seu curso. Tudo que ele tinha que fazer era garantir que ela estaria segura tempo suficiente para arrumar seu coração e seguir sua vida.

Era isso que um farol deveria fazer.

Apenas isso.

Mas ele se esqueceu de que existe apenas para ajudar, para ser um abrigo temporário que logo é abandonado e esquecido para voltar sozinho a enfrentar a violência de águas escuras e frias que a vida joga contra ele.

Não devia ter esquecido, mas esqueceu.

Não devia ter desejado que ela ficasse, mas desejou e esse foi seu erro, querer ser algo diferente do que nasceu para ser. Querer ter algo que não lhe cabe ter.

Ela chegou cansada e perdida, mas com um sorriso que iluminava muito mais que sua própria luz. Era pequena, cabia dentro dele, mas conseguia fazer com que ele se sentisse minúsculo.

Enquanto ela se recuperava, ele esperava e cuidava, olhando com medo e tristeza ela se lançar em algumas correntes que sequer sabia para onde poderiam leva-la, apenas fazia isso sem pensar, num ímpeto pueril e ingênuo, como se pudesse abraçar todo o mar, mas não podia e então, ela voltava.

Mas um dia não voltou.

Arrumou seu barco, achou seu rumo – que a levava para longe dele – e seguiu sua viagem, até encontrar um porto.

Um porto é um lugar que não enfrenta a fúria do mar e nem é obrigado a resistir sozinho ou mesmo existir sozinho. É um lugar seguro para se atracar e para onde voltar, mas principalmente para onde se querer voltar.

Ela achou um porto, atracou e seguiu sua vida.

E ele continou ali, no meio daquela solidão escura que o cerca desde que ele se lembra, iluminando o caminho daqueles que precisam e suportando mais uma rachadura em sua estrutura.

Mas agora nunca mais se esquecendo de que quem nasceu para ser um farol, jamais poderá ser porto de alguém.