Sobre escrever e o Recanto das Letras

Hodiernamente tenho refletido muito, a observar entre meus jovens alunos a faculdade da escrita! Deparo-me cada vez menos com aqueles que trazem da alma as palavras para o papel ou, tecnologicamente, entenda-se para qualquer meio eletrônico! Como professor e amante da escrita devo marcar essa observação a partir de elementos que podem explicar tal falta de alma votiva à literatura. De fato, devo concordar que primeiramente vivemos em uma sociedade onde as imagens tomam conta e tentam pensar por nós, na forma como certa vez desenhou em palavras Guy Debord. Vivemos numa sociedade do espetáculo, onde o superficial, em ode de imagens, conduz nossos sentimentos para onde quer que interesses dominantes queiram! Somado a isso, e talvez Debord nem tenha imaginado algo assim, a velocidade da informação rasa que a rede de computadores possibilitou solapou de vez qualquer horizonte de expectativas! Informações breves, espionagem de interesses dos usuários e informação/propaganda dirigida aos indivíduos, algoritmos que querem construir redes de amigos inimigos sociais e, claro, o mundo aberto a qualquer ideia num contexto em que todos podemos ser produtores de “conteúdos”! O que esse segundo conjunto de causas quer dizer? Em apenas um exemplo: quer dizer que, em se tratando de redes sociais ou qualquer uma de suas variantes (FB, IG, TT, Google, blogs, Whats, etc) a verborragia de ideias descartáveis, infundadas, ofensivas, mal fundamentadas, preconceituosas, desumanizadoras e banalizadoras da experiência humana possuem espaço! É o mundo onde, malgrado existam leis e bom senso (ao menos ainda no dicionário), qualquer um diz qualquer coisa de qualquer forma, escrevendo de qualquer jeito! É o espetáculo da imbecilidade humana no maior reality show que existe: a internet e seus usuários! Neste ínterim, devo dizer, faltam referências! Falta conhecimento! Falta sensibilidade para com o outro! Falta HUMANISMO! Falta apreciar bons livros, bons filmes, bons hábitos humanos, bons hábitos intelectuais! Falta alma nas coisas! E quem define o que é bom? O tempo, que eterniza a arte! Assim vejo, por vezes, o que ocorre com meus jovens alunos! Não generalizo, a afirmativa majoritária leva à lei das exceções, que são muito gratificantes! Não obstante, em todos os casos, tento fazer a diferença compartilhando minha alma, em sala, por mais carrancuda que ela seja, a alma! De fato, apenas aquele que não queira de mim não levará um pouco para a vida! Também estou dizendo isso tudo, que duvido alguém ler até o final, por ter lido ontem a noite algo que me chamou a atenção: o desabafo de uma escritora aqui do Recanto das Letras! Ela mostrava-se revoltada com aquilo que tem visto em um reduto dedicado a escritores! Parece o mesmo reflexo de tudo o que eu disse antes! A escritora que comentava sobre a qualidade do conteúdo disponibilizado parece, de fato, o mesmo reflexo do que acontece nas redes sociais: “se eu tenho um perfil, escrevo o que eu quiser”! “Que todos engulam minha religião”, “que todos engulam minha visão política”, “que todos engulam qualquer coisa que eu queira falar”, “que todos leiam meus escritos lindos e reflexivos”, “que todos me consumam”! Parece isso: uma carência generalizada, uma sede por curtidas e comentários inúteis, uma vontade de ser “o fodão da escrita”, “nobel da literatura” sem a devida alfabetização literária! Devo concordar com as palavras da escritora em questão e fazer com que elas ao menos, em mim, reverberem! Movido pela curiosidade, fui espiar algumas das publicações que aparecem em evidência, bem como os números (quantitativamente muito substanciais!) da coluna da esquerda, com os estilos/tipos textuais! Se eu rezasse por alguma alma, teria dado a volta ao mundo rezando rosários! Como pode um site de escritores tornar-se um produto (por também ser vendido, com assinaturas pagas) onde qualquer um veicula o que quiser? Isso não é liberdade de expressão, nem de opinião, nem de nada! É o que disse: uma rede de espetáculos individuais fazendo ode à decadência literária (como disse, há exceções, ainda bem, que valem a pena)! Recanto das Letras, meu querido, há quase uma década te acompanho! Minhas condolências!

P.S.: escrito disforme, sem parágrafos, informalmente, propositalmente! Indigesto!rs

Heródoto Poeta
Enviado por Heródoto Poeta em 03/04/2018
Código do texto: T6298264
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