Apego e liberdade

É muito difícil nos desapegarmos de crenças - políticas, religiosas ou filosóficas - mesmo quando, dentro de nós, desconfiamos que elas não são exatamente o que fomos ensinados a acreditar por tanto tempo. A gente tem necessidade de acreditar em algo que nos guie, apegar-se ao que nos traz conforto e segurança. Desvencilhar-se do que deixou de fazer sentido para nós é bem doloroso. Como é abandonar os princípios que antes nos regiam? O que fazer? Quando deixamos de acreditar no que até então seguíamos (cegamente ou não), sentimo-nos perplexos e desorientados. Em que devemos passar a acreditar?

Ao dizer que não acreditamos mais, quem nos conhece fica chocado e age como se houvesse sido ofendido. Ninguém entende que a perda das nossas antigas convicções não é um ato voluntário. A gente não para de crer por capricho ou infantilidade. É um processo lento, contínuo e sofrido. Você se vê obrigado a a pensar usando sua própria cabeça, a seguir sua intuição. Alguém acha que é agradável admitir que talvez a verdade não seja aquilo que foi ensinado? Não, é como entrar num terreno desconhecido e acidentado.

Um lado desagradável de rompermos com os dogmas é o fato de muitos agirem como se quiséssemos ofendê-los. Não se trata disso. Ninguém quer ofender ou desrespeitar ninguém. O que se quer é seguir adiante, descobrir que caminho seguir e o recomeço é tortuoso. Podemos nos imaginar como uma ave recém-saída da gaiola, tendo de aprender a voar sozinha e a decidir seus caminhos depois de um longo tempo sem tomar nenhuma decisão por si mesma nem lutar para viver. Isso é assustador.

Apegar-se a uma crença pode ser como não querer sair do ninho. A gente quer seguir o mais fácil, que não nos obriga a refletir. É mais cômodo quando temos quem nos diga que "esse é o caminho". Porém, frequentemente, a vida nos mostra que há muitas contradições entre a realidade e o que fomos induzidos a acreditar. Refletir, passar a seguir nossa cabeça e tentar descobrir a verdade é um caminho solitário. Só nós poderemos decidir se continuaremos a segui-lo.