Recalculando rota

Qual a distância entre onde estou agora e os meus sonhos?

Martelo em mim o que penso

Nos descompassados passos que dou sobre calçadas quebradas e gramas que vencem o asfalto velho e gasto da rua.

Numa fração de segundos o tudo é nada

Mas vejo, sinto, toco

O longe é perto

E o que antes parecia incerto, é certo e sólido

E até o nada é uma imensidão de tudo

Nesse mundo reto

Que quando torto parece certo

E quando reto parece avesso

Escuto as respirações ofegantes dos desesperados agonizando em desafetos

Destoando da sintonia celeste

As vidas andam nos zigue zagues entre carros e motos

Anestesiando a existência na virtualidade

Com os olhos pregados nas notícias falsas, e com o coração postado no odio

Escondidos entre os zunidos dos carros que desfilam apressados

Entre faróis quebrados

E faixa de rua sem pintura

Placas enferrujadas que mostram caminhos, onde ninguém quer ir, mas precisa para não morrer de fome.

O relógio faz um tic tac...

E apita mais uma hora

Viro mais uma esquina

Dos prédios alguém me olha de cima

Sem saber se estou em mim

Ou se estou perdida

Às vezes me lembro de respirar

E observo o verde-folha das árvores pintando a tela escura da noite

Que sobrevive em meio ao cinza caótico e muros onde as cores explodem em mensagens sutis sobre coisas que a gente precisa ver mas esquece.

A ambiguidade da existência faz e não faz sentido

Cruzo radares, ouço sirenes

e por vezes confundo com os meus proprios pedidos de socorro

E me ocorre de súbito

Que mais que questionar sobre a distância

É preciso ânsia de estar em mim

Não no mundo

Só mais intenso

Mais profundo

Mais vivo

Em temperança seguir resiliente

Desapegar do torpor de uma realidade fria

Libertar as correntes de elos que unem à uma existência vazia, incrédula , ignorante, distante.

Meu GPS precisa ser consertado

Porque as vezes a gente cansa um pouco de recalcular a rota

Às vezes a gente só quer chegar logo

E por isso tá sempre com pressa

E também por isso acaba perdendo os detalhes

A vida não pode virar borrão em velocidade que passa estranho pela janela

Deve-se saborear o que é doce

E viver o que de melhor se encontrar nela.

- Charlene Angelim

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 01/05/2018
Código do texto: T6324436
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