Orfeu no orfanato de Deus
Quero de Deus a mesma distância que ele, entre nós, impôs. Nem um milímetro a menos, nem um milímetro a mais. Quero de Deus o mesmo silêncio que dele sempre tive. Que sequer um fonema seja acrescido à soma de todo descaso que recebi. Não quero de Deus o paternalismo, quero antes a orfandade: meu estado primordial. E se por acaso às portas da morte houver de Deus, em mim, uma súbita revelação, espero estar cego e além de todo milagre. Pois se não se redime uma vida num só momento, o que dizer de uma eternidade?