Da amizade

A amizade é uma pedra preciosa que se burila lentamente. Um elogio aqui, uma gentileza ali, pequenos mimos palavras doces, sem pressa e sem premeditação. Quando menos esperarmos estaremos ligados por estes laços, fortes como o aço, tão duros como o diamante, que chegamos a julgar serem eternos. Mas algo pode corroer o aço e o diamante é duro, porém quebradiço. E chega o malfadado dia em que tudo desmorona e nos deixa sem chão. Tudo gira enquanto procuramos culpas, motivos para tal desatino.

Mas são dois lados, como tudo o mais que existe. Não nos sentimos causadores do desenlace, mas o outro lado pensa diferente, julga-se lesado, e assim tudo se esvai como fumaça. O tempo passa e se procura o esquecimento, apagar traço por traço a imagem que criamos em nossa mente, de alguém que na realidade nunca vimos, apenas uma imagem inventada que, mesmo assim, persiste em nossa mente como forjada a ferro e a fogo.

É algo assim como a sensação de quem perde um braço e anos depois ainda sente como se ele estivesse ali. Chico Buarque definiu assim: “Oh, metade amputada de mim / Leva o que há de ti / Que a saudade dói latejada / É assim como uma fisgada / No membro que já perdi”.

O pior de tudo é que não cessa com o tempo. Perder um amigo é algo terrível que não desejo nem ao pior inimigo.

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 08/05/2018
Reeditado em 09/05/2018
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