Indesejada

Eu queria que você pudesse sentir na minha pele o arder do seu desprezo ano após ano.

O acidente de percurso. A tarde de aventura que interrompeu seus planos. A imagem do seu erro e sua vergonha, ou como você preferiu rotular na véspera de natal ao revelar seu amigo secreto virando os olhos, "a maior surpresa da minha vida’’.

Sabe eu olho pra trás e tento buscar na memória uma imagem que não venha de fotografias, uma memória real onde sinto seu abraço, onde te vejo genuinamente sorrindo pra mim. E não encontro.

Encontro porém seu olhar de desgosto, de reprovação, sempre predisposta a me julgar, “você precisa emagrecer, você está muito magra, quanta olheira, eu não sei o que você quer da vida”.

Sei que soa frase de adolescente rebelde, mais eu sinceramente não pedi pra nascer, e pra ser bem franca, eu nunca te pedi muito.

Voce é esse câncer que eu finjo não ter, que Madalena uma vez disse que eu precisava vomitar se não eu iria morrer. Lembro-me que essas palavras perfuraram como faca.

Queira eu ou não, ela estava certa. Você é essa doença que vem crescendo silenciosamente, que me fragiliza. Que me destrói todas as vezes que eu tento me reerguer. Você me atinge porque vem de dentro.

Gih Matos
Enviado por Gih Matos em 14/05/2018
Reeditado em 14/05/2018
Código do texto: T6335822
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