Covardia
Covardia
Em que circunstâncias a fuga expressaria coragem?
Não se torna covarde aquele que reconhecendo a inutilidade de seu caos interior afasta-se desta realidade onde os sentimentos mais nobres são dispensados às coisas e as pessoas são tratadas como descartáveis.
É de uma coragem absurda gritar um basta a esta decadente idiossincrasia de valores plásticos e belezas artificiais instagrafadas em capturas de tela.
Fujo com pavor dos utilitaristas selvagens sentados no topo de suas montanhas de entulho obsoleto que contam dinheiro e não leem a história e não reagem aos risos mais despretensiosos...
Dispenso os mornos apertos de mão automatizados, os egos inflamados e este pretenso estado de lucidez onde o normal é a fúria...
Soei um alarme interno, inaudível aos desatentos e fugi, mas a única colina próxima que seria o mais perfeito abrigo para minha covardia e que alcancei ao cruzar o abismo do medo, foi o teu corpo amante-amigo.
Renata Vasconcelos