Amor

Amor. Essa palavra possui diversos significados. Bilhões se dispuseram a pensar e, principalmente, a falar e definir o amor. Platão diz que amor é desejo. Desejar é ir atrás do que não se tem, e por isso se ama. Ora, definir o amor assim é simples. Eu amo o que não possuo e se não tenho, amo. O amor é sempre a coisificação do outro. Por amor me esforço para ter, possuir. Amo o carro e por isso quero possuí-lo, amo a casa e por isso quero tê-la para mim mesmo. O amar pressupõe desejo, vontade, o desejar implica movimento e querência, eu quero, eu amo, eu anseio, e por isso me esforço para ir, para chegar, para agarrar e prender o que amo! Assim, com toda energia empregada se alcança o objeto objetivo, então, tristemente, percebe-se que não se ama mais. Pois como já pensou Schopenhauer, a vida é dividida entre querer e não possuir, possuir e não querer. Compro o carro, ele é meu, possuo-o, ele me pertence, e não o quero mais. Por ser seu dono, não o quero mais.

Para Platão, quando se tem, se sofre. O amor assim, nada mais é que sofrer por não se ter e, após se conseguir o objeto amado, sofrer por se ter. Logo, fica claro que amar é sofrer. As definições de Aristóteles e Cristo são, infinitamente, mais fáceis de lidar. Para Aristóteles o amor é pelo que se tem, em tese era o que se deveria acontecer. Amo o que possuo, e não só sinto o amor pelo que possuo, mas amo porque possuo. Para Cristo, amo o outro como a mim mesmo, isso porque o que importa, diferente do que Platão e Aristóteles dizem, é o outro, o próximo, e não eu.

As três visões definem o amor para o ocidente. Na pós-modernidade o amor deveria ser complementar, eu amo o que não possuo, me esforço e alcanço o que amo. Uma vez em minha posse, o objeto do meu desejo se torna o que amo, não o desejo mais, não o faço, pois, possuo o objeto. E sendo assim, amo o por ser meu. Quando a alegria de amar me enche, divídua com os outros.

Quando olhamos por esse ponto, o mais alto que se pode alcançar, é o dividir com o outro. Isso ocorre, pois, dentro de uma relação amorosa, sempre se trata do próximo. Amar é um verbo que pede complemento. Se se ama, ama-se a algo.

Amar é muita coisa. Os três pensadores conseguiram cobrir muito do que consideramos amor, e de como vemos ele. Mas amar é muita coisa. É abdicar, desejar, sofrer, querer, é olhar para o outro como se estivesse olhando para si, tratar como se quer ser tratado, é amar como se quer ser amado... Amar é um ato que pede companhia, que pede um objeto, e sendo assim, amar é contraditório em sua própria ideia.

Isso porque amar é um ato altruísta egoísta. Amamos o outro porque queremos ser amados, damos amor porque queremos receber amor. A alegria deveria estar em dar amor, em compartilhar, mas tudo sempre se resume ao eu. O ser humano é egoísta em sua essência, tanto o é que aplaudimos os que abrem mão de si em prol dos outros. E o amor é isso, é querer dar para receber, amar é complicado.

É quase impossível cobrir tudo o que dizem sobre o amor, e acima disso é quase impossível entender o amor em essência, são muitas visões, declarações e pensamentos. As artes têm o amar como objeto de atenção desde os primórdios, a psicologia analisa o cérebro de um apaixonado para ver se consegue bases cientificas de como funciona essa coisa confusa. O fato é: o amor é difícil, complexo, doloroso e contraditório. Quando nos apaixonamos,porém, amamos amar.

Pedro Sousa Rocha
Enviado por Pedro Sousa Rocha em 11/06/2018
Reeditado em 11/06/2018
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