Pensamento de um espírito sobre seus momentos de conturbação

Suave penumbra pairava sobre meus olhos quando decidi me encontrar com a verdade em mim.

A faca na mão, a lágrima já enxugada na outra, me fizeram limpar de algum jeito a face assombrada pelo medo, angústia, por minha sorte escolhi a mão que enxugava e embalsamava meu úmido olhar perante uma sequência de pensamentos e frases guardadas internamente pelas indagações... Por que comigo? Por que perder tudo? O que me restou senão a vida que chora face todos os meus próximos caminhos? Por que errei e deixei de fazer aquilo que poderia ter mudado meu rumo?

Arrependimento não mata, mas faz querer se matar. Talvez achasse naquele momento que fosse indigno de continuar. Tomei equivocadas decisões que afetaram vidas, e também a minha. Mas não tem como mudar, bem que eu queria. Todos os pedidos que fiz na mocidade para minha vida não custaram senão segundos de sonhos pelos quais não consegui realizar.

De que valeu minha espera por aquilo que passou, mas nunca foi e nunca chegou? Quem era senão desilusão misturado com fracasso por não haver estado no patamar que considerava moradia da alegria?

Me fazia em agonia, aonde nada tinha sentido. Ai como fui pessimista em pensar que um objeto me salvaria, a faca não traria mais dor. Mas escolhi a mão, a mão que para, a mesma mão que condenou e agora me salva em segundos de desequilíbrio.

A mão parte do que fui me trouxe o único alívio, o troféu ao qual regozijo do perdão perante pecados diversos que correram sobre meus dedos e que me salva pelo alívio de pensar que sim, sou mais que um fim ao que me dava. Não poderia ser finito aos desafios em que me pudera. Parte de mim foi pecado, a outra, omissão. E pude pensar em tudo isso no momento devido? Não, mas minha mão que se estendia ao céu para meia reza me dizia que alí havia grandeza pela qual não imaginava. Parte de mim apontava ao ambiente sublime, a outra, segurava a faca voltada ao chão. Se escolhesse findar-me aos sete palmos abaixo, transformaria-me no enterrado, sem força para voltar à estaca zero. Parte de mim me fez sentir que até mesmo a estaca zero te faz subir de algum lugar, visto que os números infinitos em escala sobem e descem nas contagens, como temperatura. Negativa no inverno, positiva no verão. Como todo meu inverno solitário, o frio de dentro também passaria, era como se eu, dono de mim, pudesse transformar a temperatura dos sentimentos, escolhi tentar mais uma vez.

E foi essa escolha pela qual hoje me orgulho. Força para subir e apontar ao sublime seguindo os passos que nunca pensei seguir. Como podia eu finalizar um caminho que eu deduzia não haver mais chão?

Eu ando pelo que trilho de mim e para mim. "Então vou aguardar". E fiz. Sarei. O mundo se curou, ao menos enxergava cura para a doença da minha alma, e quis encontrar a cura para tantas outras almas.

Experiência tal que obtive êxito. Escalando positivamente a infinidade de minha existência e para cima ou baixo, traz experiência, mas a calmaria e a pacificidade se recolhe na plena certeza de que ninguém se destaca por escolher a faca, e nem melhora por descer nula estaca, pois toda alma quer ser aquilo que não viu, aquilo que não sentiu, alegria, amor, felicidade e paz.

É pela mão que se escolhe enxugar-se, apontar para o alto e seguir. De todos os caminhos não há nenhum melhor do que parar, se redimir e recomeçar de onde parou. A vida vale mais que instantes perturbadores, ela te dá infinitos de momentos gratificantes. Siga a mão que salva hoje para o amanhã.

Claudemir Soares

26/06/2018