O que antes me maltratava serviu para criar a transformação em mim

O que eu via, o que queria, o que deixei de ver. Deixei de querer, o que eu buscava.

Sem condições de me ouvirem, sem condições para me deixar falar. Foi isso o que senti e isso me fez tocar a alma. Fez desfiar meu coração, desfiou os pedaços de mim.

Aqueles tantos pedidos, aqueles tantos apelos. Para ficar aqui, permanecer em mim. Dentro de onde eu queria ficar.

Junto! Tão perto e tão só.

No escuro da minha imensidão de sentidos. No escuro de mim.

Pensei em ficar aqui, assim. Mas vi o quanto foi difícil permanecer. Então eu me esclareço dentro de mim e me reviro do avesso.

Doeu pra ficar aqui, deste modo. Como antes não se via. O que antes me nutria de esperança em melhorar a mim mesma.

Doeu para sair.

Rasguei o melhor de mim e espalhei pelo caminho. Algum fruto há de nascer.

E do meu casulo as poucos eu fui saindo. Do meu casulo eu me transformei. Vivi por muito tempo ali. E no desabrochar do dia eu nasci. Rompi as amarguras e cresci. Tive medo de olhar pra trás. Tive medo de ficar onde estava. Eu não cabia mais naquele lugar.

O que antes me atormentava me deu rumo a caminhar. O que antes me maltratava serviu para criar a transformação em mim. No melhor que me fez crescer. Na força que me fez seguir. No caminho que eu vi florir. Com a vida que me fez amar. Sem que ninguém pudesse dar nada por mim.

E a minha dor eu vi passar. No ilimitado conhecimento de mim. Em todas as medidas que me fizeram amar. As transformações que criou rizomas e me fizeram regeneradora de tudo o que desafiaram que de mim poderia brotar.

E neste passo de esperança o grito de alívio pode ser ouvido e sentido em mim.

Alívio por ainda está sentindo o desejo de mergulhar sempre dentro do meu eu e poder encontrar o que os outros não podem me dar.

Alívio por ser aquilo que se fez brotar e crescer em mim. Alívio por fazer crescer dentro de mim o que não se pode mostrar, nem tocar. Apenas vivenciar o que ali há.