A PRODUÇÃO DO SENTIDO

Um texto preenche o espaço em branco com uma narrativa lacônica. Remete a uma série de referencias externas e experiências abstratas. Eu o compreendo. Mas não há nada nele que me encante. Afinal, sigo outras narrativas e me interesso por outros temas.

Mesmo assim o texto continua alí diante dos meus olhos alheio a minha opinião pessoal. Sei que não sou o leitor ao qual o texto se dirige. Não se estabeleceu qualquer vinculo entre nós. Para mim ele não passa de mais um texto entre milhares de outros.

Neste exato momento centenas de outras pessoas estão lendo outros textos bem diferentes por ai e ninguém realmente se importa com isso. Os textos não mudam o mundo, principalmente os best sellers. Quanto mais leitores pior para o texto, sucumbirá diante das tantas interpretações e releituras das quais é passivo objeto de inspiração.

O sentido (ou significado) ao qual os textos remetem não existe nos textos. Trata-se de algo que os antecede, que os pressupõe e ultrapassa. É alguma coisa que acontece no vácuo entre os signos, regidos por suas regras combinatórias, e a leitura. Algo que escapa, assim, ao fato linguístico. A significação é como uma presença que nos afeta e que apenas compreendemos parcialmente através de uma imagem que o texto de algum modo evoca.