REFLEXÕES A UM FIM DE TARDE - II

026. O discípulo que não ultrapassar o mestre, jamais o será.

027. Como recuerdos carnavalescos, num canto do salão, entre confetes e serpentinas, ficaram uma máscara, três corações partidos, um lenço lacrimoso, beijos roubados, retalhos de ciúme, uma rosa rubra: caprichos de amor.

028. E a intensidade do amor era tanta que, à luz de um catre de estrelas, num quarto de lua, tornaram-se apenas um.

029 (In)dependência: o moinho não roda se água faltar. O tempo não para se o relógio travar.

030. Nas noites de lua cheia, os pirilampos são liberados de trabalhar.

031. Nas tardes chuvisqueiras, vem-me o sabor dos maternais bolinhos de chuva. Salpicados de canela: sonhos com os olhos abertos.

032. Vezes sem conta, a alegria da lágrima supera a dor do sorriso.

033. Mesmo sem troca de mão, jamais mateio solito, pois o sabor de um chimarrão, a saudade também conhece.

034. Quando as palavras não conseguem expressar a intimidade de nossos sentimentos, as lágrimas o fazem.

035. Somos artistas errantes de um circo que, diariamente, renova o toldo, e impõe-nos mudanças na maquiagem.

036. A engenhosa e sonhadora menina acreditava que, ao anoitecer, o Sol se punha, transformando-se em lua cheia.

037. A alternativa nos ganhos do ‘osso jogador’ ensina-nos que a existência nem sempre é feita somente de triunfos.

038. Paciência e perseverança crepitam, entre úmidos gravetos, num velho fogão a lenha, nas brancas manhãs de inverno.

039. Acalenta-se a vida na fecundidade do ventre; na ternura das mãos a existência se embala; a sapiência do olhar resguarda o caminho. E o universo se amplia na missão maternal.

040. Nas cadeiras de calçada, a prosa perdeu a voz. Visitas tornaram-se virtuais, e a roda de mate ficou sem parceiros.

041. Pela vidraça empoeirada, numa nostálgica tarde domingueira, uma chuvinha manhosa ziguezagueia saudades.

042. E quantos amores se ocultaram, floresceram e feneceram, em cartas manuscritas, adormecidos em caixas de recuerdos.

043. Quem ama conhece, como ninguém, a lonjura da distância, os clamores da ausência e os sussurros da saudade.

044. A pandorga, para alcançar os ares, necessita da oposição do vento.

045. E ao sinal dos tempos, alvoradas citadinas são despertadas pelo cacarejar de emplumados celulares.

046. E as pacientes senhoras, parceriavam com o sol, e com agulhas da vida tricoteavam perenes lembranças.

047. Se chover no feriado ou no fim de semana, colocaremos o vinho em dia, e abriremos as garrafas do sono.

048. E não poucas vezes, em distantes tempos idos, aos bailes de campanha, pela carência do rouge, o carmesim do papel crepon enrubesceu lívidas faces.

049. Firmaram a promessa de um querer para sempre. A pradaria foi cartório e numa figueira fez-se o registro. O tronco tornou-se cinza, mas o amor inda persiste.

050. No vagão da solidão, o tempo, as lembranças e a saudade sentam no mesmo banco. Enquanto isso, a vida corre pela janela.

Jorge Moraes - agosto - 2018

jorgemoraes_pel@hotmail.com