Saudade dos canalhas honestos!

Nelson Rodrigues disse que, um dia, sentiríamos falta do canalha honesto, visto aqui como grupo e não como um conceito abstrato. Esse dia, ou melhor, esses dias, estão aí. O mundo foi invadido pelos canalhas desonestos. O canalha honesto vai dizer que tem tanta vontade de transar com uma mulher ou outra, ou várias, que seria capaz de estuprá-las. O canalha desonesto vai querer a mesma coisa, mas vai dizer que é contra a “cultura do estupro”, que a mulher também tem que querer fazer sexo com o homem, que quando ele a estupra, porque ela quer, gosta, acha normal, sei lá, que tem que ser consensual etc, etc. É isso, o canalha honesto admite. O desonesto inventa uma história, uma ideologia, uma fantasia.

Não estou dando a mínima para crianças, por exemplo, mas aí eu viro e falo: Ah, mas as crianças da África, que pena, coitadinhas, morrendo de fome e AIDS. Ahhhh.... isso só por que, no fundo, que é raso até, eu estou dando graças a Deus que não sou eu. Como disse Oto Lara Rezende uma vez: 'mineiro só é solidário no câncer'; a gente só quer ser solidário por que quer dar graças a Deus que não é a gente que esta com câncer. Ponto. Acabou.

Mas, aos fatos: é muito difícil não ser canalha, pulha. E não são canalhas apenas as pessoas, as massas de gente anônimas, obscurecidas. Há também os reitores, professores, intelectuais de toda espécie, jovens, velhos, meninas e velhas. Jornais, televisão, internet. Praticamente tudo exala abjeção. Mas, sempre há uns 5% que se salvam sabe Deus como. Os outros 95% cedem a todas as pressões que trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.

Por trás de toda essa abjeção e degradação está o medo. O medo que começa nos lares e vai para a sociedade, que é a extensão direta dos “lares”. Por medo construímos um cotidiano de impostura, matamos a canalhice honesta e, por medo ainda, aceitamos tudo isso como uma verdade total. Os pais começam por ter medo dos filhos, os professores têm medo dos alunos e ninguém exala um pio de verdade. Uma menina, pentelha, de seus 14 anos ou menos, me sai do elevador falando assim com a mulher que parecia ser sua avó: “Porque vocês não me obedecem? Não fazem as coisas como eu digo que tem que fazer? Querem saber mais do que eu?”. E num tom áspero e irritante. Era para ela apanhar em praça pública. Mas não, a avó abaixou a cabeça e ouviu calada. Só faltou dizer: Obrigado, desculpe!

Meu Deus!!!!!!!!!!!!!! Acabou. Acabou tudo!

Ninguém dá um pio!!!! É só “protesto” que ninguém ouve, muda de canal, ou passa direto na time line, sei lá..manifestações ensandecidas e burras, ninguém dá a mínima, ‘só piora a mobilidade de pontos da cidade’, muitos dizem.

É uma cultura de impostura, de canalhice desonesta, de coisas inauditas tomadas como “ok”, de toda nossa pusilanimidade. Uma dessas imposturas é o fato de que, hoje, sobretudo, há um medo pueril do ser reacionário, de ser tido como tal. “Retrógrados que só pensam coisas absurdas, alienantes e contra os direitos humanos”, é o discurso. (Saco cheio!). E no fim é tudo covardia, só vomitaço de regras caucadas no medo, na pusilanimidade e na impostura. Esse medo nunca produzirá coisas boas por que só pode produzir pessoas atomizadas e que buscam criar cada vez mais métodos alienantes sofisticados para se livrar da dor, de ser canalha, negar o medo, a inutilidade de praticamente tudo que é tido como “construção social” ou qualquer porcaria dessas. Enfim, todos canalhas desonestos de merda.

Saudade dos escrotos e canalhas honestos!

Thais Paloma
Enviado por Thais Paloma em 12/08/2018
Reeditado em 31/12/2018
Código do texto: T6417050
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