Uma crise
Um dia tive uma crise
Não conseguia pensar sobre a causa desta
Havia recebido uma proposta para publicar meus escritos
Neste mesmo dia, a insonia me visitou
Ela se instalou
As horas daquela madrugada aflita não passavam
Cada segundo durava anos
A ansiedade avassaladora resolveu me visitar também
Mal esperava pelo raiar do sol
O dia amanheceu chuvoso
Precisava correr, andar
Andar para um lugar que não existia
Extravasar
Deixar transbordar tudo que estava ali
Acreditava que quando dormisse tudo ia passar
Fui medicada
Voltei para casa
Ansiosa pelo efeito do remédio
Não fez efeito
Após a percepção ilusória de anos passados, anoiteceu
Havia uma companhia agradável para um filme
Tentativa falha
Não conseguia me concentrar no filme
Fechava os olhos para me forçar a dormir
Eu tremia, mas não estava com frio
Mais uma vez tentei dormir
Apesar do anjo que estava ao meu lado
Um maravilhoso cafuné
Não funcionou
Rolava infinitas vezes na cama
O dia nem amanheceu
Implorei para voltar ao hospital
Precisava da dose mais forte possível
A enfermeira enquanto aplicava a injeção me disse:
- Esse remédio vai te deixar sonolenta.
Respondi: - Essa é a intenção!
Mais uma tentativa falha
Horas ouvindo áudio de chuva pelo celular
A aflição me consumia
A agonia me devorava
Desejava desmaiar
Bati com a cabeça na parede algumas vezes
Minha pulsão de vida me barrou
Ao olhar no espelho
Ver um pouco de sangue
Desesperada por mais doses de medicamento
Gritava
Minha mãe chorava
Muito religiosa, ela propôs um trato
Me levaria no hospital, se fosse em uma benzedeira
Topava qualquer coisa para me dopar
Desmaiar
Dormir
Fui a benzedeira
Voltei ao hospital
Na sala de espera, a ansiedade me consumia
Implorei à médica: por favor, mais medicação!
Acreditava que o sono ou desmaio daria um fim a tudo isso que não sei descrever
Ao sair do hospital, perdi a motricidade do meu corpo
Desmaiei
Fui carregada por um policial e minha mãe até a casa de pessoas maravilhosas
Após uma sessão de acupuntura
Dormi ou desmaiei por alguns minutos
Fui à uma consulta de um neurologista
Foi prescrito uma medicação
Na primeira noite, dormi por duas horas
Na segunda noite, a insonia estava presente novamente
Mais uma vez clamava por mais medicação
Uma psiquiatra me atendeu e prescreveu algumas medicações
Pela primeira vez, em dias
Dormi
Uma noite inteira
Quando acordei, todos me olhavam
Antes de cantar vitória
Percebi que a ansiedade não tinha ido embora
Ela estava ali
Presente
Instalada
Alguns dias se passaram
Ela se mantinha ali
Circulando por todo meu corpo
Acelerando meus pensamentos
Como pode uma futura psicóloga estar em crise de ansiedade?
Senti medo de falhar no meu curso
Não conseguia ficar sentada por um tempo, concentrada em algo
Primeiro semestre de estágio
Primeira vez que atuaria como psicóloga
Como?
Eu expressava em forma de desenhos infantis fragmentos do inconsciente
Sentia a ansiedade como um líquido que corria em grande velocidade em meu corpo
Um anjo me levou para expressar em movimentos minha infantilidade: pula-pula na praça
Enquanto pulava
O líquido ansioso resolvia andar em passos lentos
Duas semanas se passaram
Lentamente, a aflição e a agonia esvaíram
Sobrou apenas a ansiedade cotidiana
Minha velha amiga.