Vipassana - Ver As Coisas Como Realmente São

Ontem, enquanto assistia ao espetáculo ''Eu, amarelo'', dispus-me a perceber e observar. Perceber e observar no monologo, sobre que ilhas a personagem ocupava - e o movimento das mãos. Sobre isso, o que eu estava sentindo? À mim, vos digo, adsorveu mente e matéria numa valsa! Pego esta ciranda, e ocupo-me de traze-la para minha vida. O que poderá, nesta dinâmica, fazer-me mal? Trato de experimenta-la. Ao deitar-me a noite, observo meu corpo inteiro, parte por parte. Pela manhã, repito o processo. Calço as pantufas, etc.

Caminhando pelas ruas do meu bairro, tento observar cada momento - mesmo que a principio soe sem alguma relevância - e sigo o embalo. As cinco portas sensoriais estão abertas, como normalmente, mas neste exercício dou-lhes devido valor. Percebo uma sensação de coceira na região temporal esquerda, que logo se transforma, como se numa corrente energética tendo fim como uma pequena pontada no hélice da orelha. E de volta, a porta das ideias: ''estou caminhando, caminhando.'' Nenhuma sensação, senão a grosseira que é, meus pés oscilando entre si, pisando o chão. O peso do tronco ao quadril, do quadril para as pernas, para os joelhos, panturrilhas, tornozelos e pés. As sensações vem e vão muito rápido, não é difícil perder as mais efêmeras. O exercício vai bem.

Sento-me para um breve repouso no banco da praça, e agora, parece ser um excelente momento para observar a porta da visão. Duas crianças loiras, mesma altura, divertem-se com uma bola cor-de-rosa maior que elas juntas. Jogam, correm atrás, lançam o corpo no ar, caem, riem, levantam-se. Mudo o foco para outras cores. Busco por roxo. Nada roxo. Visito a casa de madeira que agora parece bem menor que aquela a qual eu recordava. Flores. Parques tem flores. Busco por flores. Muitas orbiculares. Regozijo. Umas romboides emaranham-se com outras, as alternadas. Coro. Vejo pinuladas por ali, obtusas soltas, e é só o que sei identificar. Trato de fechar os olhos agora. Quero me ver de dentro. Olhos fechados. Um, dois... Quero abrir meus olhos novamente - penso -desassossego! Quero muito abrir meus olh... Nossa! Meu coração está batendo muito rápido, observo repentinamente. E minha respiração? Ah... Tudo bem. Minha respiração está sabendo que estou de repouso. Meu coração, não. Engraçado. Um pouco tenso. ''Calma, coração'', vamos focar na respiração. Quente, breve, breve... Entra e sai por ambas as narinas. O ar entra bastante frio e sai bastante quente. Percebo que não desejo mais abrir os olhos! A luz do sol batendo de encontro com as pálpebras como código Morse, certeiro e forte. Azul. Branco. Amarelo. Amarelo. Vermelho. Branco. Azul. Laranja. Todas as cores. Sem som. Apenas cores. Substâncias disformes em cores. Nunca mais quero abrir os olhos - alegro - e sinto um farfalhar nas regiões baixas. Levantando devagar mudo minha atenção para os pés, e embalo-me à voltar ao passeio. Respiro profundamente dando as mãos e jogando-as juntas em um movimento para trás. Observo cada sensação no meu corpo e realizo estar completamente consciente. A respiração suspende e faço alguns sons com a boca. Sinto um repuxe na coluna, na sexta vértebra. Deixo o pescoço cair para frente, tocando o queixo no peito e relaxo. Sinto as escapulas erguerem-se. Faço o movimento de volta e entendo, o espetáculo não terá fim.

betarzi
Enviado por betarzi em 17/09/2018
Reeditado em 28/07/2022
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